Aulas de letramento étnico-racial fizeram a autodeclaração como negro subir 26% entre os adolescentes de Diadema (SP)

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Um estudo mostra avanços e conquistas em cidades brasileiras que aplicam a Lei 10.639/03. A pesquisa inédita publicada em fevereiro deste ano, é uma parceira do Geledés Instituto da Mulher Negra e o Instituto Alana, e mostra que com as aulas de letramento étnico-racial em Diadema (SP), houve um aumento da autodeclaração como preto ou pardo entre os adolescentes. subir de 39% para 65,7%.

De acordo com a fase qualitativa do estudo Lei 10.639/03 na prática: experiências de seis municípios no ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, a autodeclaração subiu de 39% para 65,7%, registrando um aumento de 26%. A pesquisa traz exemplos de como a aplicação da lei funcionou em Belém (PA), Cabo Frio (RJ), Criciúma (SC), Diadema (SP), Ibitiara (BA) e Londrina (PR).

Com as aulas, alunos aumentaram a autodeclaração de pessoas pretas e pardas na cidade de Diadema / Foto: Divulgação/TV Brasil

O aumento da autodeclaração de adolescentes como pessoas negras em Diadema se deve a implementação e promoção do ensino de cultura e história africana e afro-brasileira, para a analista de políticas públicas do Instituto Alana, Beatriz Benedito.

À medida que aprendem sobre si, eles ganham referências de personalidades negras e passam a se sentir representados, o que reduz a discriminação racial dentro das escolas, melhorando o relacionamento entre os estudantes. Muitos deles passam a ter mais ferramentas e condições de combater o racismo e podem identificar e denunciar casos de bullying e violência racial nas escolas“, disse.

Na etapa anterior, lançada em abril de 2023, a pesquisa quantitativa revelou que 71% das Secretarias Municipais de Educação — ou seja, 7 em cada 10 — descumprem a principal lei de combate ao racismo nas escolas.

Uma professora da rede municipal de Ibitiara (BA) conta que a educação antirracista contribui no fortalecimento da autoestima das crianças da escola. ”Eu percebo crianças mais felizes, interagindo mais e melhor com o outro, respeitando mais seu coleguinha. Hoje, por exemplo, é comum a criança chegar com seu cabelo afro e cacheadinho solto na escola e ninguém fazer chacota”, afirma.

Entre os principais destaques de cada município, apontados pelo estudo, para a promoção de uma educação antirracista, estão os seguintes:

Belém (PA):

  • Criação de uma coordenadoria especializada;
  • Elaboração de um diagnóstico da rede de ensino;
  • Plano de ação organizado com o compromisso antirracista;
  • Formação continuada e específica para diferentes equipes;
  • “Censo da negritude” para orientar os professores e trabalhar temas como a influência negra no bairro ou na cidade;
  • Reconhecimento da matriz de saberes quilombola, que foi considerada na alimentação da escola.

Cabo Frio (RJ)

  • O professor está no centro do projeto, e a cada ano um docente é convidado pela secretaria para ser o “dinamizador de rede” responsável pelas ações de educação antirracista;
  • As escolas e professores são protagonistas e têm autonomia na elaboração de projetos que façam sentido para as suas comunidades;
  • As redes estabelecem parcerias com universidades para a formação continuada de seus docentes;
  • São feitas constantes parcerias com outras instituições, como museus e centros culturais, para organizar visitas de alunos.

Criciúma (SC)

  • A diversidade e inclusão estão na base das diretrizes curriculares da educação infantil e ensino fundamental;
  • Há uma planilha para as escolas da rede registrarem as ações desenvolvidas que serão realizadas ao longo do ano, que devem ser apresentadas à coordenadora do Programa Municipal de Educação para Diversidade Étnico-Racial (PMEDER), para facilitar o acompanhamento;
  • Diferentes parcerias com museus e instituições, para a realização de atividades como visitas, palestras e oficinas em lugares como museus e quilombos;
  • A Escola de Pais, que ocorre semestralmente e traz as famílias para perto da discussão na comunidade e na escola.

Diadema (SP)

  • Criação do Dandara e Piatã, programa oficial específico da prefeitura para seleção de professores de história e cultura africana, afro-brasileira e indígena;
  • Investimento em material didático específico, de alta qualidade e caráter artesanal, com apoio de entidades negras do município;
  • Utilização de jogos de tabuleiro, como o africano Mancala Awelé e o indígena Jogo da Onça, de forma integrada às atividades escolares;
     

Ibitiara (BA)

  • Promove formação continuada de educadores;
  • Planejamento anual construído de forma coletiva durante a Jornada Pedagógica para orientar as ações de educação antirracista;
  • Diversos projetos realizados durante o ano: peças teatrais feitas a partir de lendas africanas, valorização de personalidades negras inspiradoras, estudos sobre as conexões atuais e históricas entre o Brasil e a África.
     

Londrina (PR)

  • Comissões anuais de diversidade nas escolas, cuja função é garantir a presença de profissionais das escolas — um coordenador pedagógico, um diretor e um professor — nas formações disponibilizadas pelas secretarias, para que as experiências sejam replicadas;
  • Atuação estreita do movimento negro junto à secretaria, para manter as equipes engajadas, e por meio de constantes rodízios, para que todos os profissionais atuem nos projetos;
  • Trabalho com receitas tradicionais de comunidades quilombolas do estado e visitas a hortas comunitárias;
  • Mostra de trabalhos escolares sobre a questão racial em espaços públicos da cidade, como rodoviária, biblioteca pública e centro de atenção ao idoso.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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