Especialista diz que termo ‘turismo de risco’ reforça estereótipos sobre teritórios negros e periféricos

WhatsApp-Image-2024-01-10-at-18.11.23.jpeg

O vídeo de pegadinha de moradores da Cidade de Deus com o influenciador estadunidense Darren Watkins Jr, conhecido como Speed, que viralizou na internet esta semana, gerou um debate sobre “turismo de risco” e fortalecimento do crime organizado. Outros influenciadores estrangeiros, também fazem conteúdo deste tipo.

O diretor da Federação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ) David Gomes, explica o problema desse termo. “O termo turismo de risco é uma forma de reforçar estereótipos que existem relacionados aos territórios negros como favelas e periferias. Esses territórios são ricos em arte, cultura, tem histórias, personagens, em suma, tudo que é necessário para um território se consolidar como um ponto turístico”, disse David, mais conhecido como Derê Gomes, que também é historiador e mestrando em Planejamento Urbano.

Ele entende que na cidade do Rio de Janeiro, há locais dignos de visitação por turistas brasileiros e/ou internacionais. Ele cita exemplos de pontos conhecidos e badalados, como a quadra da Mangueira, ‘O Kontêiner’ no Complexo da Penha, o Bar do Omar no Morro do Pinto, o Bar do David no Chapéu Mangueira e a Escola Carioca de MC’s que tem filiais no Complexo do Lins, no Morro do Andaraí e na Rocinha.

legenda: Alex Gonzalez posa com amigos na Mangueira, Zona Norte do Rio — Foto: Reprodução

De acordo com Derê, a Favela tem um enorme potencial turístico, “basta o poder público olhar com outros olhos e dar a devida atenção para o que é construído nesses territórios em termos de comércio, arte, cultura e ativismo”, afirmou.

O especialista também discorda que a visitação de estrangeiros a favelas fortaleça o crime organizado, como alguns internautas apontaram. Segundo Derê, que milita por Direitos Humanos há mais de dez anos, não se deve transferir responsabilidade do poder público.

Para ele, o turismo serve para que as pessoas conheçam a realidade do local visitado. Ele afirma que o Brasil convive há décadas com o controle armado de determinados territórios por parte do crime organizado.

“Mas de forma alguma nós podemos transferir a responsabilidade que é do poder público para esses influenciadores, majoritariamente jovens, que apenas estão se comportando de acordo com o tempo histórico ao qual estão inseridos, que é o da superexposição nas redes sociais, a responsabilidade é toda do Estado, o crime organizado se fortalece a partir da ausência do Estado e, em muitos casos, como o das milícias, com cumplicidade do próprio Estado”, analisou.

Houve também internautas que disseram que os conteúdos gerados nessas visitas podem promover imagem negativa do país, mas Derê Gomes acha que as visitas de turistas a favelas mostra apenas os problemas já existentes.

“Acho que essas visitas mostram que o país tem problemas, assim como todos os outros. Mas prefiro olhar pelo lado positivo, mostrar as favelas e periferias é mostrar o povo brasileiro, o Brasil real, e não apenas o país retratado nos cartões-postais, dos pontos turísticos. E como já falei esse Brasil real é um Brasil potente, com muita coisa boa para mostrar ao Mundo, só precisa de uma oportunidade”, finalizou.

Leia mais notícias aqui: Peixes aparecem mortos em lagoa que mina de sal da Braskem se rompeu em Mundaú, Maceió

Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

Deixe uma resposta

scroll to top