54,7 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar no Brasil, negros são maioria nesta situação

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Cerca de 54,7 milhões de pessoas ainda enfrentavam algum grau de insegurança alimentar no país no ano passado, 70,4% dos lares em situação de insegurança alimentar tinham negros como responsáveis. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2024, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada nesta sexta-feira (10).

Apesar de representar uma queda em relação a 2023, o problema segue crítico, afetando desproporcionalmente a população preta e parda. A disparidade racial se intensifica nos casos mais graves: domicílios chefiados por pessoas pardas representavam 56,9% do total na insegurança alimentar grave, mais que o dobro da parcela de lares com responsáveis brancos (24,4%).

No geral, 18,9 milhões de domicílios (24,2% do total) vivenciaram insegurança alimentar em 2024. Embora tenha havido recuo nos três níveis de gravidade, a fome grave ainda era uma realidade em 2,5 milhões de residências, cenário classificado como insegurança alimentar grave, onde há ruptura nos padrões de alimentação e a privação quantitativa atinge inclusive crianças e adolescentes.

Fome: 70,4% dos lares em situação de insegurança alimentar tinham negros como responsáveis no Brasil em 2024 – Foto: Agência Brasil.

A análise regional confirma desigualdades históricas. Norte e Nordeste apresentaram as piores condições, com os menores percentuais de domicílios em situação de segurança alimentar (62,4% e 65,2%, respectivamente). A região Norte registrou 6,3% de suas moradias em insegurança grave, enquanto no Nordeste o índice foi de 4,8%. Em contraste, o Sul teve a menor taxa de IA grave (1,7%).

Mulheres, crianças e baixa renda ampliam vulnerabilidade

A pesquisa também evidencia que a vulnerabilidade alimentar é maior em lares chefiados por mulheres. Elas eram responsáveis por 59,9% dos domicílios com insegurança alimentar, uma participação 19,8 pontos percentuais superior à dos homens. A diferença foi mais acentuada na insegurança alimentar moderada, onde as mulheres respondiam por 61,9% dos casos.

A presença de crianças e adolescentes agrava o quadro. Entre moradores de 5 a 17 anos, 3,8% viviam em domicílios com IA grave. Na faixa de 0 a 4 anos, essa proporção foi de 3,3%. Todos os 2,5 milhões de lares em IA grave reportaram que a redução quantitativa de alimentos atingiu os menores de idade.

O baixo rendimento familiar é outro fator crucial. Os domicílios com renda per capita de até um salário mínimo, que correspondem a 41,0% do total do país, concentraram 71,9% dos casos de insegurança alimentar moderada ou grave.

A pesquisa, realizada no quarto trimestre de 2024, utiliza a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), que classifica os domicílios com base em 14 perguntas sobre acesso a alimentos nos 90 dias anteriores à entrevista.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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