“O crescimento veio de cabeças pensantes do movimento”, afirma MC Serginho sobre o Dia Nacional do Funk

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De criminalizado a sucesso internacional, o funk se tornou símbolo de resistência

O funk brasileiro, especialmente o carioca, nasceu nas favelas como forma de expressão social e cresceu como um dos movimentos culturais mais potentes do país. 12 de julho é celebrado o Dia Nacional do Funk e a data foi instituída em 2024, pelo presidente Lula, após aprovação da Lei Lei 14.940/24,

Nesta data, não é celebrado apenas o ritmo, mas também a trajetória, marcada por inovação, preconceito e, principalmente, resistência. Para MC Serginho, um dos nomes mais ovacionados da cultura do Funk, o crescimento do movimento veio a partir de cabeças pensantes.

MC Serginho e Lacraia levaram a irreverência e a pauta LGBT para o funk – Foto: Reprodução/Redes sociais

“Na década de 90 veiram surgindo cabeças pensantes como Mr. Catra, Cidinho e Doca, MC Mascote, Duda do Borel e o funk foi tomando outro rumo. E, realmente, a evolução do funk veio por eles e também pelo apoio que recebemos de rádios, TVs, Djs e o público. Isso ajudou muito a popularizar o funk e torná-lo conhecido”, analisa o cantor.

Linha do tempo

As primeiras batidas datam da década de 1970, inspirado pelo funk norte-americano de James Brown e outros artistas. No Brasil, os chamados “bailes black” começam a surgir em clubes e subúrbios do Rio e, na década de 1980, o funk se mistura com o miami bass e ganha batidas mais aceleradas. Surgem os primeiros bailes funks nos morros cariocas, especialmente com o trabalho de DJs como Grandmaster Raphael, DJ Malboro e outros pioneiros.

No início dos anos 90 chegaram as letras mais explícitas, os chamados “funks proibidões”, refletindo a realidade vivida nas favelas cariocas, com o ritmo sendo marginalizado por grande parte da sociedade, mídia e autoridades, mas segue crescendo nas comunidades e conquistando fãs Brasil afora e se espalhando para outros estados brasileiros, com presença marcante, principalmente, em São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Fortaleza.

“Todo segmento tem coisas boas e tem coisas ruins, mas o público abraçou o lado bom do funk e foi esse boom que houve aí no Brasil todo. E e a gente agradece muito as televisões, as rádios, os meu general Cidinho, essa galera toda aí foi muito. Importante para o movimento como um todo”, agradece Serginho..

Na segunda metade dos anos 90 o funk se consolida entre as populações periféricas, com o surgimento de vários grupos e duplas de Mestres de Cerimônia, os MCs, como Cidinho e Doca, Danda e Tafarel, Wilian e Duda, Grupo Geração, Amilka e Chocolate, Claudinho e Buchecha, dentre tantos outros nomes que ganharam projeção nacional na época. 

MC Serginho lembra ainda que o melhor momento da sua carreira foi quando “explodiu” com o hit “Vai, Serginho” e alguns locais acharam que a letra era mais voltada para a sensualidade, mas os mesmos lugares tocavam os “proibidões”. “A gente perseverou, levamos alegria, sempre tratamos todos numa boa. E o público abraçou a mim e a Lacraia. O funk tem sido maravilhoso pra mim, e eu só tenho que agradecer agradecer a Deus essa oportunidade que ele me deu através do funk”, finaliza o MC.

Artistas como Bonde do Tigrão, MC Marcinho, MC Serginho e Tati Quebra Barraco levam o funk para rádios, programas de TV e grandes palcos no início dos anos 2000. O ritmo ultrapassa os limites das comunidades e se torna símbolo da juventude negra brasileira.

Já a partir de 2010, algumas vertentes do funk surgem como o funk ostentação, principalmente em São Paulo, e o funk 150 BPM, no Rio de Janeiro. Naquele período surgiram nomes como Anitta, Ludmilla, que a princípio tinha o pseudônimo de MC Beyoncé, e Kevinho rompem barreiras e colocam o funk nos holofotes internacionais.

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O funk é reconhecido como expressão legítima da cultura brasileira. Surgem projetos, pesquisas e políticas públicas voltadas à valorização do gênero. Em 2023, o Congresso Nacional aprova o projeto que oficializa o Dia Nacional do Funk.

Cidinho e Doca se tornaram símbolo do movimento, com a música “Rap da Felicidade”, na década de 1990 – Foto: Divulgação

Controvérsias 

A caminhada do funk no Brasil não é feita só de beats e Volt Mix 808, recentemente, alguns políticos, alinhados à extrema direita, propuseram legislações que proíbem  uso de recursos públicos para contratar artistas que façam apologia ao crime organizado e ao uso de drogas durante shows, popularmente conhecida como “Lei Anti Oruam”, artista carioca que fala da realidade das favelas cariocas em suas letras. 

As reações do campo musical negro foram imediatas, criticando a proposição, alegando que a lei é de cunho elitista e preconceituosa. “Eles sempre tentaram criminalizar o funk, o rap e o trap. Coincidentemente, o universo fez um filho de traficante fazer sucesso, eles encontraram a oportunidade perfeita pra isso. Virei uma pauta política. Mas o que vocês não entendem é que a lei anti-Oruam não ataca só o Oruam, mas todos os artistas da cena”, afirmou o rapper em entrevista ao portal UOL. 

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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