Esta história aconteceu nos início dos anos 2000. Um importante escritório de advocacia do Rio entrou em contato com a PUC para solicitar o nome de um bom estudante de Direito para ser contratado. A instituição escolheu um de seus melhores estudantes. Ele prontamente se apresentou à recepção do escritório, entregando um envelope com documentos. Ao se retirar, percebeu que não havia colocado no currículo o número do seu celular. Voltou à recepção para incluir a informação. Ao receber o documento de volta, o estudante constatou que no topo dele havia sido escrita a palavra ‘mulato’. O jovem então substituiu ‘mulato’ por ‘negro’, anotou o número do telefone e devolveu o envelope ao balcão da recepção. E não foi selecionado! O relato do jovem preto qualificado, indicado e recusado para uma vaga de emprego está na tese de doutorado “Afrocidadanização”, do professor Reinaldo Guimarães. Uma história que se repete diariamente no mercado de trabalho brasileiro. Em exercício simples, imagine que, para tal vaga, alguém menos qualificado foi selecionado. Imagine então que este alguém tem outra “vantagem”: não é “mulato”. Qual responsabilidade desta pessoa “não-preta” que foi selecionada? Nenhuma?
Denunciar situações de racismo estrutural está entre os muitos alvos de discurso de ódio nas redes sociais. Cada desabafo vem acompanhado de comentários com acusações de vitimização, como “mi mi mi”,” vitimismo”, “coitadismo” e, em seguida, se evoca a ideia de meritocracia.
A meritocracia, como costuma afirmar o historiador Sidney Chalhoub, “é um mito que serve à reprodução eterna das desigualdades sociais e raciais que
caracterizam a sociedade brasileira ”. Portanto, reconhecer privilégios e combater a meritocracia deve ser dever de casa de brancos antirracistas. Porque “toda pessoa branca, queira ou não, é beneficiária do racismo. Mas nem toda pessoa branca é necessariamente signatária do racismo e do contrato social que ele impõe”, como diz a filósofa Sueli Carneiro. A frase é didática, direta e imprescindível.
Cara gente branca, você não teve escravos, não atuou no processo, nem seu pai, nem seu avô, mas se beneficia da estrutura racista que o Brasil manteve. Então, se você não é signatário deste contrato, para de somente usufruir dos privilégios que ele te traz. Se você não é racista, precisa ser um antirracista!
Obrigado pelos seus textos Luciana, espero que esteja entre seus projetos escrever um livro sobre o assunto. Eu estaria entre os primeiros para comprar.
Um livro?! Vou pensar no assunto. Parece um boa ideia. Grata pelo carinho.
Gostei muito do texto.Eu suspeito que tenho parentes racistas como o Meu Irmão e Meu Pai.