“É urgente assegurar a demarcação de terras indígenas”, diz Ywmalay Pataxó

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A programadora e artesã, Ywmalay Pataxó, da Aldeia Guiomar Pataxó, Território Ponta Grande em Porto Seguro (BA), acredita que “assegurar a demarcação” de terras indígenas é urgente. No Dia Internacional dos Povos Indígenas, que é comemorado nesta quarta-feira (09), Ywmalay concedeu uma entrevista exclusiva ao Notícia Preta, falando sobre os tópicos que ela considera urgentes, para assegurar e preservar a identidade e os direitos dos povos indígenas.

Além de ser formada em Tecnologia da Informação, ela também é estudante de direito na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). A estudante de 22 anos acredita que “é fundamental reconhecer que os governantes têm um papel crucial a desempenhar para garantir o progresso na proteção dos direitos e bem-estar das populações indígenas no Brasil”.

Por isso, Ywmalay elencou seis tópicos que acredita serem as principais tarefas dos governantes para com os indígenas. O primeiro é a proteção das Terras Indígenas.

“Uma das tarefas mais urgentes é assegurar a demarcação, titulação e proteção das nossas terras. Isso envolve combater invasões ilegais, desmatamento e exploração de recursos naturais que ocorrem frequentemente nas nossas terras tradicionais. A implementação eficaz de políticas e leis que garantam a posse e a gestão das terras pelos povos indígenas é essencial para preservar nossas culturas e modos de vida”.

Ywmalay Pataxó é estudante de direito na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)- Foto: Andrew Soluna.

Em seguida, a promoção da saúde e educação dos povos originários, deve ser uma das prioridades dos governantes. “Garantir o acesso igualitário e de qualidade aos serviços de saúde e educação para as nossas comunidades indígenas“, diz a jovem indígena, que frisa que deve haver respeito e sensibilidade pelas práticas tradicionais, e que as línguas e cultura indígenas sejam valorizadas.

Ywmalay Pataxó também afirma que respeitar os direitos à autodeterminação, é uma das tarefas que devem ser cumpridas pelos governantes. “Permitir que nos participem ativamente nas decisões que afetam nossas vidas e territórios. A consulta prévia, informada e de boa-fé é crucial ao planejar projetos que possam impactar as nossas comunidades”, diz a estudante, que também destaca o combate à violência a discriminação contra os indígenas.

“Tomar medidas enérgicas para combater a violência e discriminação enfrentadas pelas nossas comunidades indígenas”, pontua a indígena que acredita que uma das formas de fazer isso, é conscientizando a população, e estabelecendo mecanismos eficazes de punição a crimes contra indígenas. Assim como a inclusão e a participação desses povos, nas decisões.

“Incluir nos povos indígenas em processos de tomada de decisão em todos os níveis governamentais”. Assim como criar espaços de diálogos onde as vozes indígenas sejam ouvidas, é importante, a valorização cultural das comunidades indígenas, também é. “Preservar as nossas culturas indígenas, reconhecendo a importância das nossas tradições, línguas, artes e conhecimentos”.

No Censo de 2022, o IBGE contabilizou 1,7 milhões de indígenas no Brasil, cerca de 0,83% da população brasileira. Para ela a mudança na pergunta feita pela pesquisa, por “você se considera indígena?”, é um passo importante para melhorar a construção da identidade dos indígenas brasileiros.

Para ela, essa mudança permite que as pessoas possam expressar sua auto identificação de maneira mais precisa e inclusiva, reconhecendo sua afiliação étnica e cultural, que é o que segundo ela, exatamente o que o novo Censo faz.

Aldeia Guiomar Pataxó, localizada no Território Ponta Grande em Porto Seguro (BA) / Foto: Arquivo Pessoal.

“Ele reconhece a complexidade das identidades e dá espaço para que as pessoas possam expressar sua conexão com suas raízes culturais e étnicas”, diz Ywmalay Pataxó, que também pontua como isso implica no reconhecimento da população indígena, que é um processo complexo e multifacetado. “Ajudar a combater o apagamento da identidade indígena”.

O que, de acordo com Ywmalay, era exatamente o que a forma antiga do Censo fazia. “Isso ocorria porque muitas de nos de origem indígena eram forçadas a se encaixar em outras categorias étnicas ou raciais que não refletiam a nossa verdadeira identidade”, afirmou.

De acordo com ela, a ausência de uma opção de identificação indígena no Censo levava a uma subestimativa da população indígena.

“Muitos de nos indígenas eram contabilizados como pertencentes a outras categorias, como brancos, pardos ou negros, devido à falta de alternativas adequadas. Isso resultava em dados imprecisos e, consequentemente, prejudicava a formulação de políticas públicas direcionadas para as nossas comunidades indígenas”, afirmou a programadora.

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Além de identidade e direitos, ela também falou sobre uma unidade de pensamento e ação entre as diversas etnias indígenas existentes no Brasil. “Mesmo respeitando suas variadas formas de existência e culturas, pode ser extremamente benéfica para a defesa dos povos indígenas e para a promoção de seus direitos e interesse”.

Segundo ela, há algumas razões pelas quais a unidade entre as etnias indígenas é importante, ela destaca a “força coletiva” para ter mais voz, “compartilhamento de experiências” para gerar soluções em problemas comuns, “ampliação do Impacto”, para ela unidade pode ampliar o impacto nas reivindicações, “conscientização pública” pode ser impactado através desta unidade, além de fortalecer a “defesa de direitos” dos povos indígenas.

Ywmalay Pataxó ainda ressalta a importância de mencionar que, enquanto a unidade é valiosa, também é essencial respeitar e valorizar as particularidades culturais e as identidades únicas de cada etnia indígena.

“A unidade não significa uniformidade, mas sim a colaboração em torno de objetivos comuns. A diversidade dentro da unidade pode fortalecer ainda mais a luta pelos nossos direitos e pela preservação das nossas culturas indígenas, contribuindo para um cenário em que as vozes e necessidades de todas as comunidades sejam consideradas”, afirmou ela.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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