Na última quinta-feira (27), a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Minas Gerais, publicou em sua página oficial no Instagram, uma nota sobre o caso de racismo que a estudante do curso de Jornalismo Ana Luísa Rodrigues, denunciou em suas redes sociais, que aconteceu em uma república. “A Reitoria informa que já está em diálogo com as estudantes envolvidas para propiciar o acolhimento e a apuração das circunstâncias“, disse a universidade.
Ana denunciou há cerca de uma semana, em seu perfil no Instagram, o racismo velado que enfrentou por parte de uma colega de república. A estudante já havia tentado intervir de outras formas para que a agressora cessasse suas atitudes, incluindo uma conversa direta com a responsável pela moradia, mas sem sucesso. Diante disso, no dia 16 deste mês, ela publicou uma nota em seu perfil, contando sobre o ocorrido.

“Por muito tempo me calei porque estava digerindo tudo o que aconteceu. Mas, hoje, quero dizer que sofri racismo numa casa onde morei durante dois anos. Vivi em uma república onde ele se manifestou de forma sutil, mas muito presente. Uma caloura, em específico, fez questão de me excluir e me fazer sentir como se eu não pertencesse àquele lugar“, contou a estudante, que continuou o relato:
“Quando falei sobre isso, a resposta da decana foi simplesmente tentar ‘amenizar’, sem dar a devida importância. As outras meninas se calaram, mesmo eu expondo minha dor. No fim, fui só mais uma a passar por tudo isso sozinha, sem ser ouvida“.
Além disso, Ana afirmou que o racismo não é apenas xingamento ou violência física, e disse que sua saúde mental foi afetada após o episódio. A estudante concluiu o texto destacando a impunidade com que a lei lida com casos de racismo no país: “Eu não esqueci, e não vou deixar que apaguem essa história. Não espero justiça, pois sei que, para pessoas como eu, ela já não existe. Mas, já que elas estão se sentindo à vontade para contar uma versão que as isenta da responsabilidade pelo que aconteceu, resolvi expor a minha aqui”.
A resposta da UFOP veio mais de uma semana após a denúncia da estudante: “No caso mais recente, os setores relacionados já foram acionados e estão dando os encaminhamentos possíveis. Reafirmamos o compromisso da UFOP com a construção de uma estrutura eficiente que possa acolher, encaminhar e acompanhar os processos de ofensa racial, bem como induzir políticas e ações de prevenção, orientação e combate ao racismo. Expressamos nosso repúdio a qualquer ato discriminatório e nosso comprometimento com a formação cidadã, pautada pelo respeito em todas as perspectivas de existência”, afirmou a instituição.
Em resposta, Ana comentou: “Para reafirmar um compromisso, mais do que uma nota, é preciso tomar as devidas providências, especialmente em casos envolvendo docentes”.

Posicionamento da República Mandacaru
Em resposta à denúncia feita por Ana, a República Mandacaru também se pronunciou e disse lamentar o ocorrido:
“A República Mandacaru vem a público se manifestar sobre os recentes relatos de uma ex-moradora da casa, que expôs o sofrimento causado por atitudes racistas que vivenciou enquanto esteve aqui. Lamentamos profundamente qualquer situação de sofrimento vivida por qualquer pessoa em nosso espaço e, mais ainda, o fato de que a vítima não tenha se sentido amparada ou ouvida em um momento tão delicado“. Ainda, segundo a nota publicada, a agressora não está mais morando na república:
“É importante esclarecer que a Mandacaru não concorda com qualquer forma de racismo, discriminação ou violência. A caloura mencionada no relato foi expulsa da república no ano passado e não tem qualquer contato conosco. Reconhecemos que a medida deveria ter sido tomada com urgência, o que é um erro que assumimos com responsabilidade“.
Além disso, a organização da República se comprometeu a tomar medidas que essa situação não se repita: “A república já mobilizou ações para criar novas regras e protocolos, visando garantir um ambiente seguro para todos. Reforçamos que a dor da ex-moradora e seu sofrimento nunca serão minimizados, e a história de violência que ela relatou não será apagada. Mais importante ainda, reafirmamos que essa situação não se repetirá“.
Para concluir, assumiram novamente a responsabilidade pelo ocorrido: “Não há desculpas, não há outro lado, outra história. Não nos isentamos da responsabilidade e reconhecemos que aconteceu e que deveríamos, todas nós, ter tomado todas as medidas para que a ex-moradora não tivesse jamais passado pelo que passou”.
Foto de capa: Divulgação/UFOP
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