O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, em Goiás, foi registrado oficialmente no Programa Ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU) como o primeiro TICCA (Territórios e Áreas Conservadas por Comunidades Indígenas e Locais) do Brasil. O anúncio foi feito na última quarta-feira (03).
O título global é atribuído a territórios comunitários e tradicionais conservados nos quais a comunidade tem profunda conexão com o lugar que habita, processos internos de gestão e governança e resultados positivos na conservação da natureza, assim como de bem-estar do seu povo, os chamados “territórios de vida”.
Com forte tradição na agricultura, o povo kalunga pratica plantio de baixo carbono e se baseia no conhecimento ancestral para plantar no ritmo da natureza, dispensando o uso de agrotóxicos. Plantam em pequenas roças, geralmente menores que 1 hectare (10 mil metros quadrados), onde praticam a agricultura de subsistência, com a venda de excedentes. As áreas cultivadas são usadas por até 4 anos, depois descansam por 10 anos. As roças são feitas na enxada, sem o uso de máquinas.
Os Kalunga também praticam extrativismo e buscam outras alternativas sustentáveis para o desenvolvimento do território. Tornar-se TICCA é um reconhecimento global do papel do povo Kalunga na conservação da biodiversidade do Cerrado e das belezas da Chapada dos Veadeiros, no nordeste goiano. Rico em cultura, água e biodiversidade, estima-se que o quilombo Kalunga tenha sido criado há mais de 300 anos por pessoas que se rebelaram e escaparam do regime escravagista da época. O território ocupa uma área de 261 mil hectares nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre, formado por 39 comunidades. A desapropriação definitiva da área em favor dos quilombolas, no entanto, só começou a ser obtida em 2005, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Além disso, a expectativa da comunidade é que o título auxilie na proteção do território contra ameaças externas, pois agora os kalunga têm em mãos uma validação das Nações Unidas que comprova a preservação no território, além de agregar ainda mais valor ao turismo de base comunitária e aos produtos dessas regiões. O reconhecimento como TICCA teve início há cerca de dois anos e envolveu pelo menos 14 grandes assembleias comunitária dos kalunga.
Fonte: Brasil de Fato