O ator Evaldo Macarrão, que nasceu e foi criado na comunidade de Cosme de Farias, um bairro de Salvador, na Bahia, começa 2024 fazendo sua primeira novela. O baiano interpreta o Jupará, um dos fiéis escudeiros de José Inocêncio, na primeira fase da nova novela das 21h da TV Globo, o remake de “Renascer”, que estreia nesta segunda-feira (22).
“Eu fiquei muito feliz. A novela chegou em um momento muito especial da minha vida, então eu entendi que chegou como um presente. E eu tenho feito esse trabalho com muito carinho, e não como um desafio e uma responsabilidade como umfardo. Muito pelo contrário. Eu tenho encarado como uma beleza ancestral, por ser na Bahia, por falar da essência da natureza e por falar de uma novela que foi um grande sucesso“, conta Evaldo.
O ator que começou no teatro na escola mas que embarcou nesse mundo no CRIA (Centro de Referência Integral de Adolescentes), ONG localizada no Pelourinho, e que também passou por outros grupos de teatro da capital baiana como o Bando de Teatro Olodum, estreia em uma novela em um papel de destaque. Ao lado do protagonista da trama, o ator explica como lida com essa nova fase.
“Esse lugar de destaque chega para mim, e eu levo ele com muita leveza, e com a mesma criatividade que tive nas peças em Salvador, na série que fiz na Globo e no Multishow, então é a mesma dedicação”, conta o ator que afirma que interpretou o papel sem “peso”, que ele também atribuiu a novela ser ambientada na Bahia, mais especificamente em Ilhéus.
Jupará, inclusive, foi vivido na primeira versão da novela, de 1993, pelo ator Gésio Amadeu, que faleceu em 2020. Segundo Evaldo, a intenção é “É uma honra. Eu me sinto presenteado, pois ele de alguma forma construiu tudo isso para mim, para outros meninos jovens pretos que estão tentando pisar no audiovisual, em uma empresa como a Globo. É honrar o trabalho desse grande ator. Ele deixou um legado lindo que deve ser respondido da melhor forma“, afirma.
Segundo ele, o trabalho de desenvolvimento da personagem foi a união das características do texto original, com a adaptação, e elementos próprios. “Pensei o Jupará na capoeira de Angola, colocar elementos de Angola, que tem em sua ancestralidade e depois eu descobri que Ilhéus tem uma grande predominância de pessoas que vieram de lá. Jupará ele honra dentro da fé, que é um homem de Oxóssi“, conta o ator, que se coloca como um “ator colaborador”, contribuindo sempre para a obra.
O ator também conta que seu trabalho na novela também é dedicado não só a honrar Gésio Amadeu, mas também seu pai, que também faleceu em 2020. “Os dois são meus dois ancestrais importantíssimos“. Ele também espera que o público curta o Jupará e todos os personagens de ‘Renascer’, e que se identifique com eles. “Eu fui o mais sensível possível para entrar nas casas das pessoas pedindo licença“, explica.
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Conheça o ator Evaldo Macarrão
Evaldo conta que foi no CRIA, que começou a encarar o teatro para um lugar de mais profissionalismo, e que o motivo de seguir atuando como possibilidade de profissão foi além de resposta da própria arte de de pessoas do meio.
“Quando eu entro no CRIA e eu soube que ele disponibilizava uma bolsa, eu fico mais entusiasmado. Acho que todo sonho de meninos e meninas pobres é vencer e ajudar sua família, eu encarei a arte como uma profissão por isso“, conta. Segundo ele, foi esse lugar que ele se encontrou.
“Foi na arte que eu encontrei espaço para me expressar. O palco me deu esse espaço de ser eu, de contar a minha história, de sair daquele lugar de opressão que eu estava. A arte me salva da dor, da opressão, e me faz ser um revolucionário“, conta Evaldo, que também é formado em Pedagogia pela Universidade Católica de Salvador (Ucsal).
O ator conta de quais dores é salvo, pela arte. “Eu tenho que lidar com racismo, com xenofobia, mais ainda racismo pois minha cor chega primeiro. E é uma das piores violências para mim“, conta o ator. “Eu tenho aproveitado bastante meus espaços de trabalho para ser além de artista, um combatente, um provocador, articulador e ativista. Eu não quero só representar, mas trazer os meus também“, explica.
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