Às vésperas do Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, Roger Machado, único técnico negro no comando de um clube da Série A do Campeonato Brasileiro, voltou a trazer à tona a importância de discutir o racismo no futebol e na sociedade, destacou a importância não tratar do tema apenas neste mês.
“É um tema muito importante, uma data importante, a Consciência Negra. Não deveria ser abordado somente neste mês. Penso que tivemos evoluções, o país começou a olhar para essa questão. Porém, vejo que os avanços ainda são pequenos“, afirmou o treinador após a vitória do Internacional sobre o Fluminense, no Beira-Rio, na última sexta-feira (08).
O treinador, que há tempos se destaca como uma das principais vozes na luta antirracista dentro do futebol brasileiro, fez uma reflexão sobre a questão racial no esporte durante a coletiva de imprensa pós jogo.
O treinador do Inter aponta que o futebol funciona como um reflexo da sociedade, ampliando as desigualdades e mostrando como o racismo estrutural persiste nas esferas sociais e esportivas.
“Para mim, o futebol amplifica, cristaliza e aponta o que somos como sociedade. Se a gente imaginar o futebol como uma pirâmide social, na base está o campo. Sejamos pretos ou brancos, quem olha de cima da pirâmide enxerga todos pretos. Ou somos pretos pela cor da pele, ou pela mesma origem social, em sua maioria esmagadora“, completou.
Roger Machado também destacou que o racismo no futebol se torna mais evidente quando a carreira dos jogadores chega ao fim. Ele acredita que isso explica a escassez de negros em cargos de destaque como treinadores ou dirigentes nos grandes clubes do país.
“O racismo para mim se cristaliza quando o campo acaba e a gente consegue perceber indivíduos de diferentes cores ascenderem socialmente em diferentes velocidades. É quando os filtros começam. O ex-atleta branco consegue se esconder. Eu não consigo. A minha cor me denuncia“, disse Roger em tom de reflexão.
Além de suas observações sobre o cenário atual, Roger fez uma comparação histórica entre a escravidão e as relações de trabalho no futebol. Ele citou a Lei dos Sexagenários e a comparou à Lei Pelé, que mudou as regras que regiam a relação entre jogadores e clubes.
“Um país que foi criado em cima de 400 anos de escravidão é impossível que a gente não traga vestígios dele até esse momento”, refletiu o técnico.
Roger também lembrou que no período anterior à Lei Pelé, aos 28 anos, os jogadores começavam a ganhar um percentual do passe, mas, aos 35, a maioria (assim como ele) já estava fora do mercado, situação que ele compara ao destino de muitos escravos.
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