Três homens foram presos no último domingo (11), em Curitiba, acusados de desacato a guardas municipais, após detenção no Museu Oscar Niemeyer foram encaminhados à Central de Flagrantes. Na delegacia, dois entre os suspeitos insultaram o delegado sem ter conhecimento do cargo dele.
As agressões verbais foram direcionadas a moral e nível educacional do delegado Rodrigo Souza, que filmou as ofensas. Também foram deferidos palavrões. “Quando cheguei, vi que eles estavam alterados e perguntei o motivo de estarem gritando. Falaram que não iriam falar comigo, porque eu não mandava nada, que só iriam falar com o delegado e aí começaram as agressões”, lembrou Souza.
Ao serem convocados para escuta sobre prisão realizada pela Guarda Municipal, os suspeitos viram que o homem que haviam ofendido era o delegado. Após percepção, se desculparam e justificaram as agressões por estarem indignados com o tratamento direcionado a eles, estudantes.
Os acusados vão responder por desacato aos guardas municipais, um deles foi liberado da carceragem no mesmo dia. Os outros foram mantidos presos em razão da violência contra o delegado e tiveram liberdade na manhã do dia seguinte, após pagamento da fiança de mil reais. “Não cogitaram que eu fosse delegado em razão do racismo estrutural. Por eu ser negro, não posso ser um delegado?”, questionou o delegado.
Rodrigo torce para que mais pessoas negras ocupem cargos públicos e que não sejam vistos como anormais nestes ambientes de trabalho. “Como negro, gosto muito de servir como exemplo para aquele moleque pobre que tem intenção de seguir carreira”, declarou.
Racismo Estrutural
O conjunto de práticas e falas inserido e naturalizado no dia a dia, de caráter histórico e político e com o intuito de promover, de forma direta ou não, o preconceito racial constitui a definição de racismo estrutural. Esse tipo discriminação é perceptível, apesar de velada, em diversos espaços no país, que mesmo tendo a maior parte da população negra apresenta escassez de representações negras em cargos poder e bem remunerados.
Em 2019, o Congresso foi ocupado por 96% de brancos. Já no mercado de trabalho, os negros e brancos com a mesma formação têm 31% de diferença salarial, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). No quesito violência, de acordo com relatório produzido pela Rede de Observatórios da Segurança, os negros são 75% dos mortos pela polícia, e, em dez anos, os assassinatos de pretos e partos aumentaram 11,5%, enquanto o de não-negros diminuíram 12,9%, segundo o Atlas da Violência 2020.
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