Há oito anos com o pé na estrada – e colocando muitos outros pés pra sambar -, chegou a hora do grupo Samba Que Elas Querem mostrar o que tanto aprendeu nessa caminhada. Poucos dias depois de soltar o single inédito “Pérola Negra Passou Por Aqui”, homenageando Jovelina Pérola Negra (1944-1998), será lançado dia 5 de dezembro em todas as plataformas digitais de música “O Samba Que Elas Querem É Assim”, o primeiro álbum do grupo formado por oito mulheres.
Composto por 12 canções, sendo 11 inéditas, o disco ganhou um reforço de peso pro seu debut: Leci Brandão uniu-se ao grupo para a regravação de “Lá e Cá” (Leci Brandão/Zé Maurício).

“Leci Brandão foi a primeira mulher a integrar a ala de compositores da G.R.E.S. Mangueira em 1976, assim como Dona Ivone foi no G.R.E.S. Império Serrano em 1965, compondo um dos melhores sambas-enredo de todos os tempos, ‘Os Cinco Bailes da História do Rio’. Com certeza essas mulheres transformaram o samba em suas épocas, assim como Jovelina, Clementina de Jesus, Alcione, Beth Carvalho, dentre tantas outras. Nós acreditamos nesse legado. Esse disco chega para mostrar que, graças a elas que abriram esse caminho, as coisas se transformaram. E podemos ver o trabalho incrível de tantas outras mulheres, assim como nós, fazendo samba e compondo. Isso com certeza é o resultado de uma transformação”, vibra Bárbara Guimarães, uma das integrantes do grupo.
Junto a ela, neste movimento musical essencialmente feminino e carioca estão Cecília Cruz, Giselle Sorriso, Karina Neves, Maria Angélica Marino, Mariana Solis, Silvia Duffrayer e Thay Carvalho. Além de tocar e cantar, as moças assinam cinco das 11 faixas inéditas: “Minha Sorte” (Cecília Cruz/Silvia Duffrayer); “Filhas de Oyá” (Julia Ribeiro/Karina Neves/Silvia Duffrayer); “Pérola Negra Passou Por Aqui” (Silvia Duffrayer/Cecília Cruz) com feat de Cassiana Pérola Negra; “O Samba me Ensina” (Cecília Cruz) e “Duas Lavadeiras” (Julio Pagé/Cecília Cruz). Cavaquinista de Jorge Aragão e produtor musical de Renato da Rocinha, no álbum Vitor de Souza assina a produção musical e os arranjos, onde divide os créditos com Evandro Silva.
“Este disco marca um amadurecimento artístico do grupo, imprimindo nas músicas autorais / inéditas um pouco das nossas influências musicais. Ao mesmo tempo em que reverencia esses grandes nomes da música brasileira, o álbum também mostra a primeira ‘assinatura artística’ do Samba Que Elas Querem como uma banda com um trabalho autoral. Queremos ganhar espaço como compositoras, além de intérpretes, e temos tido uma resposta muito positiva em relação a isso”, enfatiza Karina.
E não foram poucas as músicas ofertadas por colegas compositores para formar o álbum. As integrantes contabilizam aproximadamente 40 sambas inéditos recebidos de compositores como Marina Iris, Marcelinho Moreira, Dayse do Banjo, Raul DiCaprio.
“Foi bem difícil escolher. Fizemos diversas reuniões e algumas audições para ir ‘peneirando’ as músicas até chegarmos no número final de canções. A escolha se deu por variedades de estilos e temáticas, e também tentamos imprimir parte do que somos na rua, sintetizando as trocas com nosso público em espaços como a Banca do André, no Centro do Rio de Janeiro. Mesmo assim, a sensação é que um disco só não seria suficiente para tanto samba incrível”, observa Bárbara.
Dentre as que passaram nessa primeira peneira, completam o álbum outras seis canções inéditas de grandes compositores do gênero: “Ordem de Despejo” (Maurício Gagu/Márcio Alexandre/Marcelinho Moreira); “Tudo Dorme” (Marina Iris/Raul DiCaprio); “Um Novo Abrigo” (Dayse do Banjo /Haroldo Basílio), que conta também com a participação da autora Dayse do Banjo, compositora já gravada por Beth Carvalho; “A Vida Presta” (O Samba Que Elas Querem É Assim) (Vinícius Maia/Marcos Tomé/Danilo Costa); “Respeita Meu Axé” (Fadico/Marcelinho Moreira); e “Opostos” (Igor Trindade/Raphael Gravino/Júlio Santana/Victor Nascimento).
O primeiro álbum do Samba Que Elas Querem reafirma o propósito de construir uma obra que dialoga com ancestralidade, memória, questões sociais e afetivas, mas sem abrir mão da pulsação das rodas de samba. Entoando canções que abordam temas como amor, amizade, subúrbio, fé, ancestralidade negra e lutas coletivas, o trabalho reúne diferentes vertentes do gênero, como partido-alto, ijexá, sambas melódicos e românticos. A ideia central é que cada faixa também funcione nas rodas de rua, que é o berço e um dos palcos do grupo.
“Esse disco é fruto de um trabalho incrível. Além do trabalho técnico e impecável do nosso produtor e diretor musical Vitor de Souza, contamos com as participações de um time de musicistas maravilhosas, como Samara Líbano (violão de 7), Jessica Zarpey (percussão geral), Paula Pardon (baixo) e Jessica Nepomuceno (bateria). Pra fechar, o Samba Que Elas Querem integrou e gravou o corpo de todo o instrumental do disco inteiro, repercutindo o protagonismo feminino desse projeto. Nosso público pode esperar para se emocionar com músicas lindas, que vão mexer com a alma”, promete Bárbara Guimarães.
Dentre as maiores motivações para o lançamento do álbum estão o desejo de construir um trabalho autoral, que se consolide tanto na esfera dos shows, ao vivo, quanto nas plataformas digitais, para que a música alcance mais lugares e pessoas.
“Não é fácil ser artista independente no Brasil. Por sorte temos um público cativo, que chegou junto no financiamento coletivo e já começou a aprender alguns refrões antes mesmo do lançamento. Este projeto é a realização de um trabalho artístico que vem se desenvolvendo desde a criação do grupo, mas somente este ano conseguimos tirar o projeto do papel. Então, o desafio agora é divulgar e difundir nosso trabalho autoral cada vez mais, pra nossa música chegar o mais longe possível”, finaliza Karina.
SOBRE O “SAMBA QUE ELAS QUEREM”
Criado em 2017, o “Samba Que Elas Querem” é um grupo feminino formado por oito mulheres que, desde sua fundação, ocupa as ruas e os espaços historicamente masculinos do samba carioca. Sustentando a tradição, o grupo ocupa um espaço de poder e de pertencimento e reforça a resistência. Reconhecidas pela qualidade do trabalho, pela força dos arranjos e pela autenticidade de sua identidade artística, as integrantes são aplaudidas como sambistas, com respeito conquistado pelo resultado artístico que entregam. Em paralelo ao movimento de lançamento do primeiro álbum, a caminhada profissional do SQEQ segue em plena expansão, realizando shows em Brasília e São Paulo, e conquistando, assim, cidades para além do Rio de Janeiro, onde tudo começou e já possui um público fiel.








