Rio de Janeiro recebe a maior coleção de arte iorubá fora da África

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Coleção com peças milenares chega ao país após revelação de segredo sobre monumento a Zumbi dos Palmares Foto: Eduardo Castro

A partir do mês de agosto chega ao Rio de Janeiro uma coleção com peças milenares de arte iorubá. Os objetos, que estão em processo de escolha e catalogação, devem ser exibidos na Casa de Herança Oduduwa, um local para exposições, aulas de língua iorubá, centro de estudos e um teatro.  O espaço é um elo permanente de comunicação e intercâmbio entre o Brasil e o povo iorubá. Uma forma de aproximar as culturas e auxiliar o povo brasileiro a conhecer melhor suas origens, e heranças históricas.

Trazer esse tesouro para o Brasil foi um desejo do rei Ifé, Ojaja II, de 44 anos, a maior autoridade tradicional e religiosa do povo iorubá. A vontade nasceu do fato dos brasileiros desconhecem seus antepassados africanos. Originalmente o povo iorubá  habitava o Reino de Ketu e o Império do Oyó, áreas atualmente do Benin e da Nigéria. Há ainda um grande número de iorubás vivendo no Togo e em Serra Leoa, além de, fora da África, em Cuba, na República Dominicana e no Brasil.

No final de 2015, o empresário Adeyeye Enitan Babatunde Ogunwusi tornou-se o rei de Ifé (Ooni de Efé, em iorubá). O antecessor não era o pai dele, porque o trono não é hereditário. O rei é escolhido entre integrantes das seis famílias reais da cidade. Mais de 50 iorubás pleitearam a honraria. Feita a seleção pelo Conselho Real, a cerimônia de entronização foi transmitida ao vivo por emissoras de tv da Nigéria e do Benin para cerca de 40 milhões pessoas.

Em 2017, o rei começou uma grande campanha para unir os iorubás espalhados pelo mundo. Um diretor de tv  teve a ideia de pedir que mandassem saudações gravadas pelo celular. O rei se surpreendeu com as mensagens que chegaram do Brasil devido a semelhança entre o seu próprio rosto e o cenário escolhido para a gravação: o Monumento a Zumbi dos Palmares, no canteiro central da Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro.

Coleção com peças milenares chega ao país após revelação de segredo sobre monumento a Zumbi dos Palmares Foto: Eduardo Castro

A estátua de três metros de altura está no Centro da cidade há 33 anos. O busto não seria uma cópia fiel ao rosto de Zumbi dos Palmares e sim a réplica de uma cabeça nigeriana esculpida entre os séculos XI e XII.

A opulência e a beleza da escultura fez com que o rei de Ifé quisesse ver a escultura de perto. Em junho do ano passado, ele esteve no Brasil, acompanhado de outros reis e rainhas africanos, para uma série de encontros no Rio de Janeiro e em Salvador. A historiadora Carolina Maíra Morais (que mandou o vídeo do marido para a coroação em 2017 e prepara um documentário sobre a saga da cabeça de bronze) fez parte da comitiva, transformou-se em adida cultural do Ooni de Ifé no Brasil e testemunhou a alegria de todos ao “reconhecer” os traços do Rei na cabeça de bronze do Monumento a Zumbi: “Foi um momento de alegria. Não havia dúvida para ninguém ali que aquele era o rosto de Oduduwa”, disse a historiadora em entrevista à Carta Capital.

Na tradição iorubá, Oduduwa é o Senhor da Criação, o Pai de Todos. Para os seguidores de vários matizes das religiões de matriz africana, o rei de Ifé é o “Sentinela do Trono de Oduduwa”. Segundo a tradição, o rei descende diretamente de Oduduwa, deus do panteão iorubá, reencarnação de outras divindades.

Grande parte dos escravos trazidos ao Brasil Colônia ou no período imperial era iorubá – também chamados de nagôs. A mitologia que originou o candomblé, a umbanda e outras religiões afro-brasileiras tem muita influência nagô, bem como o samba, nascido nas casas de senhoras do século XIX que mantiveram os cantos e os batuques de seus antepassados.

Após a visita ao monumento de Zumbi dos Palmares, o rei de Ifé consultou seus guias espirituais e recebeu a ordem de mandar para o Brasil imagens e peças originais do acervo milenar da cidade sagrada – e não cópias ou reproduções. São os próprios orixás tentando reforçar a identidade afro-brasileira e fazer com que conheçamos a história da nossa história.

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