Representantes de religiões de matrizes africanas que integram a Rede Articulação da Caminhada de Terreiros (ACTP) de Pernambuco, anunciaram na segunda-feira (23) que registraram queixa na Secretaria de Defesa Social (SDS) do estado contra um pastor que tem continuamente associado um painel pintado no Túnel da Abolição, no bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife à “feitiçaria”.
Em vídeos e postagens nas redes sociais, o pastor Aijalon Heleno Berto Florêncio afirma que o painel, que ele reconhece representar as religiões de matriz africana, tem “reverência a entidades satânicas”. “Você precisa entender que essa palavra bonita ‘retorno à ancestralidade’ é, nada mais, nada menos, do que uma redescoberta dos poderes místicos das trevas que energizam o Candomblé, a umbanda e as religiões de matrizes afro”, afirma o pastor que já é investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Pernambuco por essas e outras manifestações racistas. Em março deste ano, Aijalon já havia chamado um ator negro de “feiticeiro”.
Nesta segunda-feira (23), data dedicada internacionalmente à Memória do Tráfico e Abolição, os representantes de religiões de matrizes africanas de Recife realizaram o manifesto “em defesa da liberdade de crença e de respeito ao nosso sagrado”, nas palavras de Mãe Elza de Iemanjá, da Articulação da Caminhada dos Terreiros, em entrevista ao G1: “O ato foi marcado diante da necessidade de as religiões de matrizes africanas e indígenas de Pernambuco entrarem com essa representação criminal contra um pastor que dissemina o ódio”.
Mãe Elza lembrou ainda que a intolerância religiosa é crime. Em seu artigo primeiro, a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 destaca que “Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
Em suas redes sociais, o pastor continua a repetir as mesmas ofensas e a praticar a intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana. Em postagem realizada nesta terça-feira (24), ele afirma que as investigações do MPPE e da PCPE significam que “está em curso a criminalização da Bíblia”. “O Estado não pode ser usado para cercear tiranicamente uma religião que diverge da minha – como querem fazer os feiticeiros Pernambucanos. Fundamentações religiosas não podem influir nos rumos políticos e jurídicos da nação”, diz um trecho da publicação.
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