João Júnior, mais conhecido como Jota Júnior, rapper e gari denunciou, no último domingo (27), em suas redes sociais, o racismo sofrido por ele após pedir um carro pelo aplicativo Uber.
Em entrevista ao Notícia Preta, Jota Júnior conta que estava com a namorada (uma mulher branca) e pediu um Uber do bairro da Penha até o Rio Comprido, centro do Rio de Janeiro. Quando a namorada entrou no carro, o motorista cumprimentou, mas não questionou nada. Assim que o rapper entrou no carro, o motorista perguntou onde em Rio Comprido que eles iriam. “Eu, com toda calma do mundo, cumprimentei ele e falei que tinha ‘dado mole’, pois tinha aceitado a corrida. Se você aceitou a corrida, você tem que ir. Se você não quisesse ir para algum lugar, você não aceitasse a corrida“, explicou Jota Júnior.
De acordo com Jota, neste momento o motorista se exaltou e começou a dizer que se fosse em favela ele não iria, que não levava em favela, cancelaria naquele momento a corrida e reportaria a UBER. Mesmo com a exaltação do motorista em se negar em ir se fosse favela, Jota Júnior disse a ele que, por sorte dele, não era em favela, mas se fosse ele teria que levar. O motorista tentou se explicar dizendo que tinha gente que entrava no carro e pedia para levar na boca de fumo.
Ainda de acordo com o rapper, o casal seguiu viagem, mas depois de cinco minutos dentro do carro a namorada de Jota Júnior percebeu que o motorista estava fazendo uma transmissão ao vivo pela rede social. “Na minha mente, ele estava assistindo uma transmissão ao vivo, mas na verdade ele estava fazendo a transmissão e eu não percebi em um primeiro momento”, comenta.
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Após perceber que se tratava de uma transmissão ao vivo sem seu consentimento, o rapper questionou o motorista, se ele estava com medo de algo, se achava que seria assaltado. O motorista no mesmo momento cancelou a transmissão e tentou se explicar dizendo que sempre fazia isso com os passageiros que entravam no seu carro e mostrou outras duas transmissões na sua rede social. “Durante a discussão ele falou que tinha medo. Eu disse pra ele que não tinha que ter medo, você não pode sair fazendo uma transmissão ao vivo. Ele então disse que estava excluindo o vídeo e alegou que ele sempre fazia gravação dos passageiros”, relata.
Segundo Jota Júnior, a todo momento o motorista ameaçava cancelar a corrida e ir a uma delegacia para resolver o problema. Depois de passar por uma viatura o motorista acelerou o carro e gritou pedindo ajuda aos militares, que saíram do carro apontando o fuzil. “Por sorte fomos abordados por policiais que pararam para entender o que estava acontecendo, deram razão ao meu questionamento. Mas, se fossem militares despreparados eu podia ter pedido a minha vida”, diz.
Jota Júnior entrou em contato com a Uber e recebeu uma mensagem de lamento da empresa de aplicativo e que a mesma tomaria as medidas necessárias para que fatos como esse não voltassem a acontecer. Na terça-feira (29), a empresa entrou em contato, via ligação, informando que o motorista foi desativado da plataforma.
O Rapper não acredita que esse racismo vai acabar, mas tem em mente que para que isso diminua o ideal é bater de frente e não deixar passar batido. Segundo Jota Júnior não será colhido nessa geração todo a batalha enfrentada, mas espera que filha de 8 anos viva em um mundo diferente do que ele vive hoje. “Temos que exigir nossos direitos, a gente tem que batalhar. Se a gente não fizer isso, vamos ficar sempre a mercê deles. Temos que continuar fazendo a nossa parte, se envolver mais com essas questões raciais. Eu tenho cinco anos que estou firme nessa luta como ativismo, sempre fui rapper, então sempre falei sobre isso, mas ativista, falar, palestrar, colocar a minha cara tem uns cinco anos que tenho feito isso. Acredito que tem sido bastante eficaz, não para acabar, mas conscientizar muitas pessoas”, finaliza.
Resposta da Uber
Em nota, a Uber disse que é inaceitável a discriminação sofrida pelo usuário e reitera que esse tipo de comportamento do motorista configura violação ao código de conduta da empresa. “A Uber garante que a conta do motorista foi desativada da plataforma e que está à disposição para colaborar com as autoridades responsáveis pela investigação do caso”. De acordo com o Código de Conduta empresa, os motoristas têm permissão para instalar câmeras e realizar gravações para sua própria segurança, porém são proibidos de usas essas imagens para publicar em qualquer rede social. A Uber explica que os motoristas parceiros são instruídos a como tratar tal tema do ponto de vista de respeito à privacidade do usuário.
Campanha contra o racismo
Há pouco mais de um mês, a Uber lançou uma campanha de combate ao racismo, incentivando os motoristas e usuários a combaterem essa prática. A intenção da empresa é promover ações educativas através de vídeos didáticos e um treinamento especializado sobre preconceito e discriminação aos motoristas.