Rainha de bateria passa por tomografia para provar que não carregava drogas, após ser barrada em aeroporto

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A professora de educação física e rainha de bateria da Acadêmicos de Realengo, escola de samba do Rio de Janeiro, Cíntia Barboza, foi impedida de embarcar para Benin, na África. A sambista foi revistada pela Polícia Federal no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e levada a um hospital para realizar uma tomografia sob suspeita de estar levando entorpecentes no sistema digestivo.

O caso aconteceu na última quarta-feira (03), quando passista estava indo fazer um show no exterior, e contava com o cachê do evento para pagar sua fantasia do carnaval deste ano. A bagagem de Cíntia foi revistada duas vezes, passou por uma revista pessoal e precisou tirar sua lace. A Acadêmicos de Realengo disse, em nota, que a rainha de bateria sofreu racismo, e a Polícia Federal afirma que a trabalhadora passou por procedimento padrão.

Cíntia Barboza após ser liberada pela Polícia Federal no Aeroporto de Guarulhos — Foto: Reprodução/ Instagram
Cíntia Barboza no Aeroporto de Guarulhos — Foto: Reprodução/ Instagram

Nossa escola não tolera e jamais apoiará qualquer tipo de preconceito, racismo, homofóbica e qualquer intolerância contra o ser humano. Nossa querida Rainha de Bateria, estamos com você, muita força“, diz parte da nota da escola de samba carioca.

Cíntia conta que saiu do Rio para São Paulo com o grupo que fará o show em Benin, e no aeroporto de Guarulhos, onde embarcaria para o país de destino final, foi levada para uma revista, que começou às 23h. Mesmo sem ter encontrado nada, levaram a sambista para uma sala junto a outros homens, que segundo ela, eram africanos.

“Entrei na salinha, já que ela [a policial] solicitou. Ela colocou a luva, a moça da esteira também entrou para me revistar. Até aí, beleza. Eu tirei meu tênis, a minha roupa, a minha lace. A mochila ela apalpou, cheirou. E eu disse: ‘Vocês estão procurando uma coisa que estão perdendo tempo’”, contou Cíntia ao G1.

Ela conta que ás 4h30 da manhã foi levada ao hospital junto com os homens que estavam na sala, para realizar um exame de tomografia, para verificar se não levavam entorpecentes no sistema digestivo. Após dar negativo, a deixaram no aeroporto com as malas, mas já havia perdido o voo e não havia vaga no próximo.

“Eu ia trabalhar para receber o recurso para fazer a minha fantasia. Agora eu não tenho mais como fazer. Eu não estou pedindo nada a ninguém. Eu sou mãe solteira, cuido do meu filho sozinha e, quando viajo, deixo com a minha mãe”, afirmou Cíntia, também ao G1.

A trabalhadora passou mais de 6h sob investigação, e mais de 24h entre aeroporto e hospital. Além disso, ela conta que enfrenta outros problemas por conta da situação. “Sou professora da prefeitura, dou aula para crianças e idosos. Para mim, é complicado. Porque, no meu grupo de crianças, as mães estão recebendo mensagens. Para mim, é uma situação horrível. Mas eu não vou parar”, disse Cíntia ao G1.

Em nota a Polícia Federal disse que “no dia 04.01.23, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, militares que atuam na Garantia da Lei e da Ordem (GLO) nos portos e aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo, apresentaram na Delegacia da PF, seis passageiros do voo ET507 com destino à Etiópia, suspeitos de transportarem entorpecentes dentro do próprio corpo. Entre os passageiros estava a cidadã brasileira Cintia Francisco Barboza”, afirma o documento.

Ainda em nota, a PF afirma que, atuando como polícia aeroportuária, a fim de combater o tráfico internacional de entorpecentes, conduziu os suspeitos ao Hospital Geral em Guarulhos para inspeção corporal através do aparelho body scan.

“Três desses passageiros efetivamente possuíam cápsulas com drogas acondicionadas no sistema digestivo e foram presos em flagrante. Após a realização da inspeção, Cintia Francisco Barboza foi liberada”, continua a nota.

A PF também afirma que “repudia e combate todo tipo de tratamento discriminatório, referente à etnia, raça, gênero, idade, nacionalidade, orientação sexual, condição social ou religião” e que “eventuais abusos ou falhas na condução do procedimento serão apurados”.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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