Intolerância religiosa no Judiciário da Paraíba reacende debate sobre direitos e justiça

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A intolerância religiosa voltou a ser pauta de indignação e debate após o Instituto Omidewá protocolar um requerimento no Ministério Público da Paraíba (MPPB) contra a conduta do juiz Adhemar de Paula Leite Ferreira Néto, do Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB). O magistrado é acusado de revitimizar a mãe de santo Iyá Lúcia Omidewá ao julgar improcedente um caso de discriminação ocorrido em março de 2024, envolvendo a empresa Uber.

Segundo a denúncia, o motorista teria se recusado a realizar a corrida após descobrir que a passageira era uma sacerdotisa de candomblé, enviando a mensagem “Sangue de Cristo tem poder, quem vai é outro kkkk tô fora”. Mesmo diante da prova, o juiz concluiu que a intolerância teria partido da própria vítima, ao afirmar que ela demonstrou “sensibilidade excessiva”.

Para o advogado João do Vale, que acompanha o caso, a decisão “perpetua a violência institucional contra povos de terreiro e valida a ideia de que prestadores de serviço podem negar atendimento com base em convicções religiosas pessoais”.

O requerimento enviado ao MPPB solicita a análise da sentença e o envio da representação à Corregedoria do TJPB e ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A promotora Fabiana Lobo, da Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania e Direitos Fundamentais, confirmou que este é o segundo caso recente de racismo religioso envolvendo servidores do sistema de Justiça na Paraíba.

Religião afro-brasileira / Freepik

Contexto nacional de intolerância religiosa

Casos semelhantes têm sido registrados em diversas partes do país. Em 2023, no Rio de Janeiro, o Ministério Público denunciou um professor que ofendeu uma aluna por usar turbante, chamando o adorno de “coisa do demônio”. No mesmo ano, em Salvador, uma ialorixá teve seu terreiro invadido e símbolos sagrados destruídos por vizinhos.

Segundo o Mapa da Intolerância Religiosa (2023), o Brasil registrou mais de 1.200 denúncias de ataques religiosos apenas entre 2022 e 2023 — sendo mais de 60% delas direcionadas a religiões de matriz africana. A persistência desses episódios revela como o racismo religioso está enraizado nas estruturas sociais e, em muitos casos, reproduzido dentro das próprias instituições que deveriam combatê-lo.

Iyá Lúcia Omidewá reforçou que seguirá lutando por justiça e respeito à ancestralidade. “Nossa luta é pelo direito de existir e praticar nossa fé sem medo”, declarou.

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Jaice Balduino

Jaice Balduino

Jaice Balduino é jornalista e especialista em Comunicação Digital, com experiência em redação SEO, assessoria de imprensa e estratégias de conteúdo para setores como tecnologia, educação, beleza, impacto social e diversidade. Mineira e uma das mentoradas selecionada por Rachel Maia em 2021. Acredita no poder da colaboração e da inovação para transformar narrativas e impulsionar negócios com excelência

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