Camila Barbosa, mãe da modelo e aluna do Centro Educacional Colúmbia 2000, em São João de Meriti, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Ana Victória Barbosa, denuncia que a escola onde a filha estudava tem tentado “calar” quem se manifesta contra a instituição. Segundo ela, desde que o caso de racismo na escola foi exposto, em julho deste ano, ela e outras pessoas, que já passaram pela mesma situação, têm recebido “notificações extrajudiciais” de representantes da escola.
Ainda de acordo com Camila, a escola alega que os casos de racismo aconteceram em um grupo de WhatsApp e que a escola não tem controle, no entanto, uma professora de português participava do grupo no momento dos atos racistas. “Se ela é autoridade máxima em uma sala de aula, ela não poderia coibir ou até mesmo punir essas alunas que cometeram racismo com minha filha?”, questiona Camila.
Além disso, Camila revela ainda que outras pessoas informaram a ela que, em outros momentos, sofreram racismo e a instituição não tomou nenhum tipo de providência. “Eu estudei lá por 3 anos, terminei o ensino fundamental lá. Na época as “piadas” racistas, homofóbicas que faziam lá não passavam de brincadeiras, na minha cabeça, né? Todo mundo tinha noção do que era, mas não sabíamos a gravidade de tudo que acontecia ou achávamos que nunca aconteceria com a gente”, disse uma ex-aluna em conversa com Camila.
Parte da conversa entre Camila Barbosa e uma ex-aluna do Centro Educacional
Ainda durante a conversa via WhatsApp, a ex-aluna disse que se sentia incomodada com algumas situações, mas os professores não tomavam providências contra o racismo recreativo. “Piadinhas com meu cabelo e com meu corpo já era normal pra mim, mesmo me doendo bastante. Muitas vezes os professores viam aquilo e não falavam nada, só deixavam continuar acontecendo. E isso não acontecia só comigo, conheço várias pessoas que passaram pelas mesmas situações ou até mesmo situações diferentes, mas que têm traumas até hoje”, afirma a ex-aluna que prefere não ser identificada.
Ela lembra ainda que tiveram casos de homofobia que não foram inibidos pelos professores, mas até fomentados pelo corpo docente. “Estávamos em aula e não lembro qual tema exatamente, mas chegou ao assunto sobre homossexuais e vários alunos, e o professor que estava na sala, falaram coisas horríveis, que gays eram gays por falta de educação, que mereciam porrada, e aquilo foi marcante demais para mim”, relembra.
“Na época, usávamos Snapchat e eu postei ‘descobri que meus amigos são homofóbicos, porrada neles’. Usei exatamente as mesmas palavras que eles usaram em sala para ofender os homossexuais. No outro dia, isso que eu postei já tinha chegado na direção da escola, nos professores, os alunos todos me excluíram porque eu simplesmente fui contra a tudo aquilo que estavam falando”, completa.
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A Professora, Pedagoga e Historiadora, Josiane Peçanha, saiu em defesa de Ana Victória em um post que a escola fez nas redes sociais e, erroneamente, o escritório de advocacia que defende unidade de educação enviou a notificação extrajudicial para o WhatsApp de Camila, que, ná época, não conhecia Josiane. “Eles fizeram uma postagem e depois apagaram, mas todas as pessoas que comentaram apoiando minha filha, receberam uma notificação. Em relação a essa notificação, me falaram que mandariam uma correta para mim, mas eu e minha filha somos vítimas nessa história”, lamenta.
Professora negra
Outro ponto que Camila questiona a conduta da escola é qual o motivo de colocar uma professora que não lecionava para Ana Victória para dar entrevista a uma emissora. Segundo ela, a intenção da escola foi colocar uma docente negra para dar a impressão de que a escola possui diversidade. “Quero entender porque eles colocaram uma professora negra, ao invés de falar da professora branca que dava aula pra minha filha e estava no grupo onde tudo estourou. Essa professora que deu entrevista para o SBT, ela não é nem professora da minha filha. Eles colocaram uma professora negra para dar entrevista para amenizar a situação. Ela é professora do 8º ano e minha filha é do 6º, minha filha nunca teve uma aula com ela”, afirma.
Apoios
Em julho, no momento do acontecido, a atriz Taís Araújo saiu em defesa da menina e postou uma foto de Ana Victória no Instagram com a legenda: “Ana Victoria, você é linda, seu cabelo é lindo, sua pele brilha de tão iluminada, seu nariz é perfeito. Quis vir aqui mostrar sua beleza pro mundo inteiro e dizer o quão corajosa você foi, o quão importante foi seus pais terem se posicionado, proposto soluções, denunciado e acima de tudo, te acolhido e segurado sua mão”, escreveu.
No início de agosto foi a vez da também atriz, Cacau Protásio, postar em suas redes sociais um texto de apoio, após o caso de racismo envolvendo os filhos do casal Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso. Ela lembrou que quando os pais são famosos, a repercussão é muito maior. “Dessa vez o caso de racismo teve uma repercussão muito maior por ser uma mãe branca e famosa, a mãe da Ana Victória não teve tanta sorte e ainda é questionada se é verdade o que aconteceu com sua filha. Até quando vamos viver sofrendo?”, questiona. “Essa luta não é só dos negros é uma luta de toda sociedade!”, completa a atriz em seu perfil no Instagram.
“Minha filha só queria ter amigos, mas fizeram isso com ela”, finaliza a mãe emocionada.
Atualização Jurídica
Em nota enviada ao Notícia Preta, o advogado de Camila e Ana Victória, Bruno Cândido, disse que, em depoimento na delegacia, a escola informou que a violência não aconteceu no ambiente escolar. “O que não é verdade, pois a aluna sofreu diversas violências antes da discriminação (com ciência da escola) que ocasionou a representação criminal. E, a própria violência ocorrida na rede social aconteceu na presença da professora, que é a autoridade escolar possuindo o dever legal de proteger a integridade da aluna. É preocupante que a escola que falha no seu papel pedagógico de promover uma educação plural e antidiscriminatória, de gerar ambientes saudáveis com condições de desenvolvimento intelectual e moral de todos alunos sem distinção, prefira coagir famílias negras e pobres do que servir ao seu papel constitucional desenvolvimento humano e comunitário através da educação. Por isso, estamos elaborando um documento para apurar a conduta constrangedora da entidade, questionando sua habilitação para exercido educacional, entendendo que, sem contemplar todos os grupos, é opressão e não educação”, reafirma.
A reportagem do Notícia Preta enviou uma série de questionamentos ao Centro Educacional Colúmbia 2000, mas até o fechamento desta matéria não recebeu nenhum retorno. Inclusive, em dois e-mails diferentes. Deixamos o espaço disponível para que a instituição se manifeste sobre o caso.
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