Nos dias 31 de outubro e 1º de novembro, ocorrerá o Quilombo do Lima, homenageando o jornalista e escritor Lima Barreto, composto por mesas de debate com autores e autoras romancistas negros. No encontro, eles discutirão a vida e a obra do escritor no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB), além da exibição do filme “Lima Barreto, Ao Terceiro Dia”.
O evento acontece na data que Lima Barreto faria aniversário e o primeiro dia do Novembro Negro, mês da Consciência Negra. O Quilombo do Lima antecede a 12ª edição da Festa Literária da Periferia (Flup) que será realizada em dezembro deste ano, e homenageará o jornalista e escritor.
As mesas trarão à tona o olhar crítico do autor sobre a sociedade no início do século XX. A denúncia ao preconceito racial, ao assédio às mulheres, a vida no subúrbio carioca e a linguagem coloquial foram algumas das transformações que o escritor inaugurou na arte do Romance brasileiro.
Além disso, o evento busca reparação e valorização de sua vida e obra, tanto por ter sido desprezado e invisibilizado pelas elites intelectuais modernistas da época, quanto por ser um dos primeiros romancistas negros a serem publicados no Brasil, sucedendo, nesse sentido, apenas Machado de Assis, Maria Firmina e Teixeira de Sousa.
“Ou seja, 2022, centenário de morte de Lima Barreto, algumas pessoas falam de Lima Barreto, mas precisamos falar mais de Lima Barreto, senão cai no esquecimento. Quando pensamos as periferias no centro, primeiro, o lugar de Lima Barreto como autor periférico, não foi ele quem se deu. Não é você que se coloca à margem, foi um centro, uma estrutura de poder, um cano literário que jojga ele pra periferia, ou seja ‘esse é um autor menos renomado'”, afirma Angélica Ferrarez, curadora da Flup.
“O esforço do Quilombo do Lima é trazer para o centro os autores negros que sempre foram marginalizados, principalmente na Semana de Arte Moderna de 1922”, completa.
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Cada mesa faz referência a um romance de Lima Barreto e todos os convidados são, também, romancistas negras e negros. Como avanço essencial na luta contra o racismo estrutural na sociedade, o evento busca incentivar um precário número presente no mercado editorial brasileiro, em que, de 1990 a 2004, apenas 6,1% de escritores e escritoras publicados eram negros.
Ferrarez lembra ainda que a ideia desse quilombo é justamente colocar em evidência o nome de Lima Barreto. “Criar o Quilombo do Lima é celebrar, de forma reflexiva, a memória desse autor. Celebrar a memória desse autor que foi considerado à margem, periférico, é trazer ele para o centro do debate”, afirma.
Participação NP
Na próxima segunda-feira (31), a fundadora e CEO do Notícia Preta, Thais Bernardes, mediará a mesa Marginália, As Periferias no Centro, com a participação de Lázaro Ramos e Alê Santos. Segundo Angélica Ferrarez, a realização dessa mesa é um ato de resistência e o Notícia Preta reflete esse lugar. “O que é o Notícia Preta senão um lugar de resistência e criatividade? Você consegue criar muita coisa a partir da ‘margem'”, ressalta.
“Se a gente for pensar no que Lázaro faz em ‘Na Minha Pele’ e o que o Alê faz, é trazer os personagens que são considerados à margem para o centro do discurso”, conclui.
Toda programação, assim como as informações sobre o evento estão disponíveis no site da Flup.
Flup homenageia Lima Barreto no MUHCAB
Local: MUHCAB – Museu da História e Cultura Afro-Brasileira
Endereço: R. Pedro Ernesto, 80 – Gamboa, Rio de Janeiro – RJ
Data: 31 de outubro
Horário: 15h às 21h30
Data: 1º de novembro
Horário: 11h às 21h30
Entrada gratuita