Com o evento climático extremo que atingiu o Rio Grande do Sul, com as enchentes, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), fizeram um levantamento sobre a quantidade de resíduos após as fortes chuvas. Segundo os dados, serão gerados quase 46,7 milhões de toneladas de entulho.
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O estudo, feito em parceria com a empresa Mox Debris e voluntários, analisou os resíduos até 6 de maio, quando segundo a UFRGS, 400 mil estruturas foram ou parcial ou totalmente inundadas em todo o estado. Ainda, a análise preliminar foi feita para colaborar com o planejamento geral das respostas operacionais aos resíduos.
Foram analisados entulhos, a partir de imagens, na Bacia do Lago Guaíba em Gravataí, Sinos, Taquari, Caí, Pardo, Jacuí e outras. O levantamento foi conduzido por Guilherme Marques Iablonovski, que também atua como cientista de dados espaciais na Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU (UN SDSN).
Em entrevista para a Rádio CBN, Guilherme comparou o entulho causado pelas fortes chuvas no Sul, com a situação em Gaza.
“Eu trabalho há bastante tempo, há uns sete anos já, com a ONU Meio Ambiente, na quantificação de escombros e resíduos pós-catástrofes. Então, o meu último trabalho foi com Gaza, por exemplo. Gaza hoje está 50% destruída totalmente e a quantidade de resíduos é menor do que a nossa aqui, que é 47, né, em Gaza tem 37 bilhões“, disse.
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Pós-crise
Para a pesquisadora e gestora ambiental Andressa Dutra, que também é coordenadora de mobilização do Instituto Mirindiba de Ação Climática Popular, é muito importante discutir sobre o momento pós-crise em situações como a que vive o Rio Grande do Sul, e pensar nas políticas de mitigação de crise climática ou adaptação climática.
“Quando a gente fala de crise climática, o que precisa ser debatida que é justamente e o pós-crise. Então esse pós-crise é o lugar onde a gente precisa pensar justamente essas medidas de mitigação desse impacto e que garantam a dignidade dessas pessoas que já perderam ali, talvez o que era mais precioso para elas“, explica.
Ainda a pesquisadora destaca os locais que acabam mais atingidos. “Esses resíduos estão mais concentrados normalmente nas comunidades que estão mais a margem. Assim, o território onde a devastação é maior, é consequente nessas comunidades com uma densidade, uma quantidade muito alta população negra, indígena“.
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Andressa ainda aponta os impactos desses materiais, tanto para o meio ambiente quanto para as pessoas. “O impacto negativo para o meio ambiente é a questão da poluição nesse território, dessa descaracterização do espaço, mas esse impacto para a população é justamente na perda da identidade dessa população. Uma identidade que foi arrancada pela omissão do poder público“, pontua.
A pesquisadora afirma que discutir esse tema é importante para “conseguir reconstruir esse território que nunca mais vai voltar para essas características iniciais”, e que os impactos como a concentração de resíduos, a contaminação de de rios e nascentes, a morte da população e a perda dos bens materiais, mostra o quanto é preciso agir antes.
“Quando a gente percebe esses impactos como resultado dessas tragédias, na verdade, esse não é um trabalho que deveria ser pensado só no pós. É por isso que precisamos de políticas públicas de mitigação e adaptação, pois a crise climática já está acontecendo nos territórios“.