O livro “Minha carne: Diário de uma prisão” narra as memórias dos dias em que esteve presa e aborda sobre as injustiças sociais que permeiam as vidas de pessoas negras
Preta Ferreira, nome artístico de Janice Ferreira da Silva, é publicitária de formação, mas também é cantora, atriz, escritora e produtora cultural. Liderança do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), em 2019 ficou presa por mais de 100 dias. Uma das acusações foi a de extorsão em ocupações paulistanas. Movimentos consideram a prisão arbitrária. Atualmente, Preta cumpre processo em liberdade.
A sua relação com o movimento de moradia começou ainda na infância. “A minha mãe Carmen Silva morou em ocupação e conseguiu criar os seus filhos por meio do movimento de moradia. Eu iniciei a minha militância na adolescência devido à necessidade.”
Após ter saído da prisão, Preta Ferreira escreveu um livro que relata a sua vivência no período em que ficou encarcerada. A produção “Minha carne: Diário de uma prisão”, lançada no final de 2020, desdobra-se de necropolítica aos encontros que teve com outras mulheres presas. Segundo a multiartista, parte do nome do livro (“Minha carne”) possui relação com o fato de pessoas negras sentirem “na pele” as opressões.
A artista conta que o propósito do livro é compartilhar com as pessoas como é a vida na prisão sob a ótica de quem está preso e denunciar que pessoas negras estão sendo encarceradas injustamente por lutarem por direitos constitucionais.
A relação com a escrita, sonhos e novos projetos
A relação que possui com a escrita começou ainda quando era criança: “Eu sempre criei histórias. Sempre tive esse lado em minhas veias”. Preta Ferreira comentou que as suas maiores referências são mulheres negras que escrevem, pois ao conhecer escritoras negras pôde, finalmente, acreditar que também era uma.
Com o lançamento do livro e depois de mais de um ano em liberdade, o maior desejo que tem hoje é que todas as pessoas negras sejam livres, mas não se refere somente ao aspecto físico: “Que todas as pessoas negras tenham seus direitos garantidos e alcancem espaços de poder. Esse não é só o meu desejo, é a minha luta”, afirmou.
Para este ano, Preta Ferreira compartilhou com o Notícia Preta que estão em produção alguns projetos com mulheres encarceradas e que já saíram da prisão, além de lançamentos de filme e música. “Em 2021 tem esse tipo de trabalho, que é dar continuidade ao que eu sempre fiz.”