As luminárias japonesas da Rua dos Aflitos, no bairro da Liberdade, em São Paulo, foram retiradas esta semana para serem substituídas por LEDs. A ação refere-se ao pedido de entidades ligadas ao Movimento Negro, devido apagamento do contexto histórico da região, que antes da chegada da comunidade japonesa, já era ocupada pela população negra.
“Em compromisso com o diálogo com a sociedade, sempre buscando alternativas que valorizem a diversidade cultural, decidimos fazer essa troca, mas que as antigas luminárias permanecem no restante do bairro. Essa medida foi feita somente no ponto do Beco dos Aflitos e antes do dia da Consciência Negra.”, disse a Prefeitura de São Paulo para a Globo.
O Bairro da Liberdade surgiu muitos anos antes da chegada dos imigrantes japoneses, por volta do século 17. Até então este bairro era tomado por negros escravizados, indígenas, pessoas pobres e pessoas consideradas criminosas na época, que eram levadas para ser enforcadas na Praça da Liberdade e enterrados no cemitério no Beco dos Aflitos, de onde as luminárias japonesas foram retiradas.
“Não é uma disputa entre a cultura negra e japonesa, elas se conversam nesse território; mas o que a gente não deseja é um apagamento de uma em detrimento a outra. Nós precisamos reforçar que, em primeiro momento, a Liberdade foi um território ocupado por pessoas negras, de cultura negra. A partir do momento em que se retiram essas luminárias que foram colocadas num lugar que é muito importante para a história e cultura negra aqui da cidade de São Paulo, a gente consegue preservar mais as características originais.” diz Hubber Clemente, hoteleiro especializado em afroturismo em entrevista a Globo.
As luminárias só foram retiradas do Beco dos Aflitos, no restante do bairro, as luminárias foram mantidas.
Em 2023, a União dos Amigos da Capela dos Aflitos conseguiu a restauração da capela pelos órgãos estadual e municipal do patrimônio histórico. Após pressão do Movimento Negro, o então prefeito Bruno Covas, sancionou em janeiro de 2020 a lei que prevê no terreno a criação de um memorial para resgatar a história de negros que viveram no bairro durante o período de escravidão.
Atualmente o local passa por obras para abrigar o memorial. Além disso, em junho do ano passado foi sancionado um projeto de lei que altera o nome da “Praça da Liberdade“, localizada no bairro, para “Liberdade África-Japão”, para homenagear as duas comunidades.
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