Os impactos gerados pelo racismo na vida de pessoas negras é o tema do espetáculo Pele Negra, Máscaras Brancas, que estreou em abril no Teatro Martim Gonçalves da Ufba, em curta temporada, e agora é remontado no Domingo no TCA. A apresentação única acontece no dia 14 de julho, na Sala Principal do Teatro Castro Alves. Os ingressos custam R$ 1 (inteira) e R$ 0,50 (meia) e podem ser retirados na bilheteria, a partir das 9h do dia do evento.
Com produção da DA GENTE Produções, capitaneada por Luiz Antônio Sena Jr., esta apresentação é uma realização da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecutlBA). “O convite para ir ao TCA é a possibilidade de colocar esse espetáculo num equipamento público para uma plateia que, geralmente, não se vê representada em grandes palcos”, comemora Onisajé.
A dramaturgia de Aldri Anunciação (Namíbia, não! e Embarque Imediato), Pele Negra, Máscaras Brancas é baseado em tese homônima de Frantz Fanon e tem referências de “Os Condenados da Terra”, outra obra do autor. O primeiro livro apresenta a ferida da subjetividade negra; o segundo apresenta uma proposta de ação sobre essa subjetividade falhada ou estragada do negro pela colonialidade.
A montagem da Cia de Teatro da UFBA é uma obra de ficção que se vale de quase todas teorias e ainda traz personagens analisadas pelo psiquiatra e filósofo. O dramaturgo declara que a obra é distópica ao perpassar três períodos – 1950, 2019 e 2888 – para falar sobre como o processo de colonização construiu sofrimentos psicológicos em corpos negros.
A montagem traz o próprio Frantz Fanon como personagem no ano de 2019 defendendo novamente sua tese de doutorado, rejeitada pela banca examinadora no ano de 1950 – Pele Negra, Máscaras Brancas, obra que atualmente é referência mundial para discussão sobre o racismo. Dois artistas interpretam esta personagem, Victor Edvani – ator preto e cisgênero – e Matheuzza Xavier – atriz, transgênera e preta.
Além do próprio Fanon, a obra traz uma família formada por seis personagens-tese que vivem em 2888. Nesse tempo-espaço, essas personagens desenvolvem as perspectivas ocidentalizadas de futuro para o negro e estão enclausuradas em uma casa devido a personagem Taiwo ter sido infectada pela “náusea do deejo de saber-ser” e, por isso, ultrapassado os limites impostos pelo “Regime Único Mundial”.
Assim como Taiwo outras personagens da sua família já tinham sido infectadas em outros momentos pela “náusea do desejo de saber-ser” e invadiram a velha biblioteca que possui informações a respeito do processo africano pré-colonial. Manter esses livros/informações distante do povo negro, que foi colonizado e vem tendo sua memória escondida e apagada, é uma forma de controle sob os seus corpos.
Cores e vozes
Os corpos dos atores, que passaram por todo um processo de pesquisa – acadêmica, corporal e voz, são por si discursos e lugares de fala. Ao perceber esta potência, o diretor musical Luciano Salvador Bahia definiu em conjunto com Onisajé colocá-los constantemente como fontes sonoras, transformando-as em coro.
“Construímos uma trilha com cara de ‘ficção científica’, em que misturamos atmosferas eletrônicas-futuristas com percussão afro-brasileira”, reforça Bahia, que contou com a preparação vocal de Joana Boccanera, que trabalhou os corpos dos atores para uma boa projeção, dicção e canto.
Nesse brincar de elementos futuristas para falar sobre a tomada de consciência da negritude a partir do passado, a visualidade – cenário, figurino e maquiagem – criada por Thiago Romero e Tina Melo reforça a discussão trazida na peça, com desenhos que misturam conceitos de afrofuturismo e alta-costura, que se desdobram e mudam de cor, num diálogo com a luz criada por Nando Zâmbia.
Com codireção de Licko Turle, professor visitante da UNIRIO, a encenação traz um elenco totalmente negro formado por dez atuantes: Iago Gonçalves, Igor Nascimento, Juliette Nascimento, Manu Moraes, Matheus Cardoso, Matheuzza Xavier, Rafaella Tuxá, Thallia Figueiredo, Victor Edvani e Wellington Lima. A coreógrafa Edileusa dos Santos é a responsável pela direção de movimento e preparação corporal.
Ao trazer uma equipe formado por artistas pretos e pretas, Pele Negra, Máscaras Brancas torna-se um projeto politico-racial ao ampliar às narrativas da Cia de Teatro da UFBA. O espetáculo é uma conquista da segunda edição do Fórum Negro de Arte e Cultura – FNAC, em 2018, realizado pela Escola de Teatro e Pró-Reitoria de Extensão da UFBA.
Serviço:
O quê: Pele Negra, Máscaras Brancas – Domingo no TCA
Quando: 14 de julho, às 11h
Onde: Teatro Castro Alves (sala principal)
Quanto: R$ 1,00 (inteira) e R$ 0,50 (meia)
Vendas somente no dia, a partir de 9h, com acesso imediato do público.
ESSA reforma da preivencia e’ um ENGODO.
#PRETAS e #PRETOS ESTAO EXCLUIDOS DE PRIVILEGIOS POR FALTA DE REPRESENTACAO EXPRESSIVA! E O QUE VOCE VAI FAZER COM ESSA INFORMACAO?