Inspirado pelas figuras masculinas que passaram por sua vida, o dramaturgo e ganhador do prêmio Shell de Teatro, Adalberto Neto conta ao Notícia Preta como criou uma obra teatral com um ponto de vista diferenciado sobre a masculinidade, luta para conquistar seus objetivos e religiosidade
“Eu não acreditei”, estas foram as palavras exatas do jornalista e dramaturgo, Adalberto Neto, de 39 anos, ao descobrir que havia ganho a 32ª edição do Prêmio Shell de Teatro na categoria dramaturgia, pelo texto do espetáculo ‘Oboró – Masculinidades Negras’. O convite para escrever a peça partiu do diretor Rodrigo França, que pensava em uma obra totalmente nova. Oboró aborda em 10 contos únicos as características dos homens negros através de 11 personagens com personalidades distintas, mas cheias de ancestralidade.
Em entrevista ao Notícia Preta, Neto contou que estava desacreditado em relação a sua carreira mas, segundo ele, os Orixás guardaram o seu período de trabalho na “conta”, trazendo a motivação desejada e a recompensa no momento certo: “Escrevo desde os 18 anos, o que resulta em quase 22 anos de carreira, e sempre tentei levar os meus textos para os palcos. Porém, nunca recebi retorno. Essa foi minha primeira oportunidade e meu primeiro espetáculo idealizado e de cara já ganhei o prêmio, o que foi um susto muito bom”, compartilhou.
Embora aparente animação agora, o alívio possui justificativa. “Achei que não havia ganhado”, afirmou rindo. “Eu estava no meu quarto e resolvi checar meu e-mail, mas não percebi que havia uma mensagem nova, pensei: não recebi, não ganhei. E quando saiu a lista de indicados nos jornais, eu recebi mensagens de felicitações quase que instantaneamente e, dessa vez, ninguém disse nada. Então, pensei: “Certamente não ganhei e tudo bem”.
Apesar do pensamento, Adalberto resolveu checar os nomes, com o intuito de ver os vencedores e parabenizá-los. Mas, ao verificar, a surpresa, havia ganhado. “Corri na minha mãe e falei: ‘Mãe, eu ganhei o prêmio Shell!’ E ela vibrou junto comigo”, o dramaturgo relata animado.
Assim como diz o nome, “Oborós”, na língua yorumbá, significa “orixás masculinos”, a obra traz a religiosidade negra para retratar as mais diversas personalidades encontradas no homem negro. “Na peça mostramos homens negros diversos e com as suas singularidades, histórias e conflitos próprios”, explica.
“Me inspirei muito nos homens da minha família. Em personagens masculinos que já li sobre, figuras masculinas que passaram pela minha vida e me marcaram de alguma forma, seja o porteiro do meu prédio, um colega de trabalho ou até mesmo um entregador”, compartilha. Adalberto afirma que cada conto entrega ao público uma nova experiência para que possam descobrir uma característica diferente. O dramaturgo conta também que a ideia de implementar as características de orixás veio do diretor da peça, Rodrigo França. “O intuito era interligar cada personagem com a ancestralidade e mostrar que as singularidades desses homens é algo vindo lá de trás”.
“Nós vimos a necessidade de falar sobre esse tema porque o homem negro é diariamente julgado sob uma ótica racista que afirmam que ‘precisamos ser fortes, aguentar o tranco” simplesmente por sermos negros”, comenta o autor sobre a peça. Segundo Adalberto, ao fazerem isso as singularidades e características próprias de cada um são ignoradas e estereotipadas. “O homem negro se tornou uma espécie de qualificação, porém, somos múltiplos”.
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