A peça “A menina Akili e seu tambor falante, o musical”, estreia no próximo sábado (19), no teatro EcoVilla, no Rio de Janeiro. O espetáculo, que teve estreia online em 2021 e ficou em turnê por 5 cidades brasileiras, recebeu o 16º Prêmio APTR Nacional na categoria “Melhor espetáculo infanto juvenil”.
Idealizado, escrito e protagonizado por Verônica Bonfim, com direção de Rodrigo França e direção musical de Samara Líbano, o musical conta a história de Akili, uma menina africana que vive numa pequena aldeia chamada Adimó e que junto com seu melhor amigo, um tambor falante de nome Aláfia, seguirá numa jornada para se tornar uma Griote, uma contadora de histórias, guardiã da tradição oral do seu povo.
A aventura de Akili, baseada no livro homônimo de Verônica Bonfim, é conduzida por uma narrativa que valoriza a ancestralidade e os valores civilizatórios africanos, apresentando uma África plural, cheia de riquezas, com uma diversidade de povos, línguas, cores e, sobretudo, positiva, para contrapor ao que é comumente retratado pela cultura ocidental. “O tambor que foi ‘demonizado’ na cultura ocidental, recebe na história o status que merece. Pulsando as batidas do coração, ele é um guia da menina Akili”, destaca a autora.
O livro, de acordo com Verônica, já nasceu com a ideia de se tornar um musical, e começou seu processo de criação seis anos após o lançamento da obra literária. De acordo com ela, o desafio da primeira montagem foi a estreia em formato virtual, devido a Pandemia da Covid-19 . Para além disso a autora ressalta que “a falta de investimento e oportunidade para artistas e autores negros no país continua sendo o grande desafio a ser superado”.
O espetáculo brincante é permeado por uma miscelânea de linguagens com uma trilha executada ao vivo. Elementos que estarão em cena para expandir as referências positivas da negritude, fortalecendo o protagonismo feminino negro por meio do encantamento, da empatia e da valorização da identidade.
A autora conta que a inspiração maior para criar a história foi uma criança chamada Akili que hoje tem 10 anos e vive em Salvador “’Akili’ é um presente pra ela e pra todas as crianças negras que nunca se sentiram representadas nas histórias infantis, incluindo a minha criança interna”. afirma Verônica.
O espetáculo é livre em sua classificação, para toda a família, assim traz temáticas educativas acerca do universo afro. “É um espetáculo para que famílias negras se reconheçam nas nossas histórias e tenham orgulho de onde viemos e de quem somos”. Mas a autora também ressalta que é uma oportunidade para as famílias brancas conhecerem mais sobre as histórias africanas e educarem seus filhos e filhas para serem antirracistas.
Embora a infância brasileira ainda seja marcada por protagonistas brancos, obras como estas nascem para fazer brilhar o sol da ancestralidade africana no universo infantil. “Akili nos ensina que é necessário resgatar as nossas tradições, onde um povo sem saber do seu passado não consegue deslumbrar um potente futuro ou viver plenamente o seu presente”, analisa o diretor Rodrigo França.
Verônica ressalta que a falta de representatividade e valorização da nossa cultura, sobretudo, em um país onde o racismo é estrutural, apaga a nossa existência e nos coloca num lugar de invisibilidade constante. E ela continua sua linha de raciocínio ao dizer que as mulheres negras são maioria neste país e é quem de fato o sustenta, há séculos ocupando a base da pirâmide e isso precisa mudar.
Assim ela pontua que o teatro, como toda arte, tem um papel fundamental na educação e transformação social do país e que é importante falar de África sob o viés matriarcal. “[A África ] É nossa Mãe, continente berço da humanidade. Essa história é feminina, é sobre a força do feminino e do protagonismo dessas mulheres que estarão em cena e fora dela”. Conclui.
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