Paulo Cesar de Oliveira e Janette Arcanjo ressaltam a importância da diversidade na cobertura da Copa do Mundo

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Copa 2022 - PC Oliveira

O futebol faz parte da identidade brasileira, mas apesar de ser tão popular e recheado de prodígios negros, o esporte que deveria ser palco apenas para talento e alegria, também é um espaço que o racismo costuma se manifestar, dentro e fora de campo. E a cobertura dos jogos também entra nessa conta.

A presença de profissionais negros nas coberturas esportivas representa a pluralidade essencial não só do esporte, mas de todo o país. O ex-árbitro Paulo Cesar de Oliveira é analista de arbitragem da TV Globo há 8 anos, e já foi alvo de ataques racistas nas redes sociais. Para ele, esses ataques acontecem no futebol exatamente pelo esporte ser parte da cultura nacional.

Paulo Cesar de Oliveira durante a cobertura da Copa do Mundo na Globo. /Foto: Globo / Divulgação.

“Esse tipo de ataque é tão aparente porque o futebol, além de ter muita visibilidade, é reflexo da sociedade, que é racista. O problema não está no esporte e sim, nas pessoas que cometem seus delitos com a certeza de que não serão identificadas e penalizadas”, explica Paulo Cesar, que também condena manifestações violentas, machistas e homofóbicas.

O analista de arbitragem também faz parte da cobertura da Copa do Mundo do Catar. Durante o mundial, alguns casos de racismo vieram à tona, como por exemplo o arquivamento do caso Vinicius Jr. e as críticas às danças de jogadores brasileiros. Para Paulo Cesar, casos como esses terminam sem punição pela ausência de pessoas negras no processo de julgamento e liderança.

As ocorrências, por mais graves que sejam, acabam sendo relativizadas por homens brancos que as julgam. Praticamente não há pessoas negras nas estruturas de poder das entidades esportivas”, desabafa Paulo.

Apesar das resoluções insatisfatórias, Paulo Cesar cita o fato da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ser pela primeira vez presidida por um negro, Ednaldo Rodrigues, como uma possibilidade de mudança para o cenário já que segundo ele, o presidente da instituição defende que os clubes devem ser punidos com perda de pontos em caso de racismo.

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Após ser árbitro por 23 anos, PCO, como é conhecido, confessa que trabalhar na cobertura esportiva promove uma grande exposição, mas afirma que, mesmo com algumas reações mais extremas com relação às suas opiniões, recebe “muitas manifestações de pessoas que acompanham e admiram o meu trabalho”

E com essa responsabilidade, Paulo Cesar acredita que é importante aumentar a representatividade nesses espaços. “A caminhada é longa, temos que resistir e lutar por um futuro mais igualitário para os nossos descendentes” afirma.  Agora cobrindo um dos maiores eventos esportivos do planeta, Paulo Cesar de Oliveira conta como se sente ao fazer parte dessa equipe.

“O nosso Time do Esporte é de altíssimo nível, estamos fazendo um grande trabalho. Não poderia deixar de destacar a diversidade da nossa equipe nessa cobertura. É um caminho sem volta, as pessoas estão se sentindo representadas. Eu recebi algumas manifestações nesse sentido. Que orgulho!”

Vai ter mulher negra sim!

Quando se trata de diversidade, a presença de mulheres negras nos espaços é uma das marcas para analisar. E na equipe da TV Globo que está cobrindo a Copa do Mundo do Catar, a ex-árbitra Janette Arcanjo compõe o time de analistas de arbitragem. 

Para Janette, fazer parte desse momento representa uma grande oportunidade. “Estou muito grata e orgulhosa por poder participar desse momento histórico, em que mulheres em diversas áreas estão trabalhando com o que gostam. Essa é a oportunidade de demonstrar o resultado de muita dedicação, estudo com afinco e a possibilidade de trocar experiências”, conta Janette. 

A analista de arbitragem afirma que a presença de profissionais negros, tanto fora quanto dentro de campo, e valoriza-los, é uma forma poderosa de combater a descriminação. “É a possibilidade de dar voz e vez aos profissionais, além de ser uma maneira de acabar estereótipos com relação ao negro”.

E ser uma mulher negra significa enfrentar discriminação tanto racial, quanto de gênero, mas Janette conta que a questão de gênero foi o que gerou mais desafios para ingressar no meio do futebol.

“Eu fui árbitra de futebol de uma geração em que a mulher estava começando a ter espaço e o primeiro desafio estava aí: demonstrar, a cada jogo, a nossa capacidade. Não havia a projeção em 2015, ano em que encerrei minha carreira, de mulheres atuando em competições masculinas promovidas pela FIFA”, conta Janette, que lembra que este ano a Copa do Mundo entrou para história com a maior participação de mulheres. 

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A analista reconhece e comemora os avanços, mas diz que “agora é dar sequência e oportunidades para as mulheres e continuar combatendo a prática do racismo” para garantir que as coisas continuem a evoluir. No entanto, Janette Arcanjo não esconde a emoção e a felicidade de ocupar o espaço que conquistou. 

“Uma mulher negra comentando sobre as regras do futebol na Globo me enche de orgulho. Sou muito grata por ter essa oportunidade e viver essa experiência fora do gramado. É uma responsabilidade muito grande lidar com o futebol, que é incorporado à identidade nacional e na maior emissora do país”, conta a ex-árbitra.

É um momento de celebrar as conquistas, aprender cada vez mais”.

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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