Todo fim de ano, o mercado de Papai Noel movimenta shoppings, eventos, ações promocionais e festas particulares em todo o país. Apesar de ser uma ocupação temporária, o trabalho exige preparo físico, disponibilidade de horário, habilidade de comunicação e, cada vez mais, sensibilidade para lidar com diferentes públicos. Ainda assim, a figura do Papai Noel segue marcada por um padrão racial específico, com a presença de profissionais negros sendo exceção, não regra.
No Brasil, não há um censo oficial sobre quantos Papais Noéis atuam por temporada, mas a demanda cresce a cada ano. A remuneração varia conforme o tipo de contratação: em vagas temporárias, os valores costumam girar em torno de um salário mínimo a R$ 3 mil. Já em shoppings de grande circulação ou eventos privados, o pagamento pode chegar a R$ 6 mil, R$ 10 mil ou até mais durante o mês de dezembro. Profissionais autônomos relatam faturar acima de R$ 20 mil ao assumir múltiplos compromissos na temporada. No exterior, especialmente nos Estados Unidos, o valor médio pode ultrapassar US$ 60 por hora, chegando a mais de US$ 150 em eventos exclusivos.
Além do salário, a rotina é intensa. Longas horas em pé, calor, contato constante com crianças e adultos e a responsabilidade simbólica de representar o “bom velhinho” fazem parte do pacote. Não existe formação obrigatória para o ofício, mas muitos profissionais investem em cursos de atuação, expressão corporal e técnicas de interação infantil. Características físicas associadas ao personagem ainda são valorizadas, o que também contribui para a baixa diversidade racial no setor.
É nesse contexto que histórias como a de Paulo Bonifácio ganham relevância. Aposentado, pai e avô, ele nunca imaginou trabalhar como Papai Noel, mas hoje ele faz a alegria das crianças no Madureira Shopping, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ex-cozinheiro de hospital, encontrou na atuação uma nova possibilidade após se aposentar. Inspirado pelo ator Milton Gonçalves, começou a se preparar ainda em junho para viver o personagem, deixando a barba crescer e estudando o papel.
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Na sua primeira experiência, já percebe o impacto da representatividade. “Outro dia uma moça de outro estado se emocionou porque nunca tinha tirado foto com o Papai Noel e nem tinha visto um que fosse negro”, conta. Para ele, o Natal não tem idade. “Tem adulto que diz que já passou da fase, e eu digo: não tem idade”, afirma.
Além da presença no bom velhinho, Madureira Shopping, lançou recentemente uma nova mascote. De aparência mais realista, a Maduzinha, personagem que representa uma menina negra, aposta em se aproximar cada vez mais do público. “Queremos que os frequentadores se identifiquem mesmo, que o shopping seja um lugar que faz parte da vida do público e moradores da região. Por isso, preparamos um Natal mais próximo da nossa cultura e mantemos esse olhar para a identidade sempre nos conectando com as influências culturais e ancestrais que o bairro respira”, destaca o Gerente de Marketing do Madureira Shopping, Aldo Oliveira.
A presença de Papais Noéis negros, ainda minoritária, amplia o imaginário coletivo e transforma o Natal em um espaço mais plural. Em um mercado que cresce ano após ano, diversidade também é trabalho e reconhecimento.
