A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta semana o registro do medicamento lecanemabe, voltado para o tratamento do Alzheimer em estágio inicial. Comercializado com o nome Leqembi, o remédio é o primeiro aprovado no Brasil com a proposta de atuar diretamente nas causas da doença, e não apenas nos sintomas.
Desenvolvido pelos laboratórios Eisai e Biogen, o lecanemabe demonstrou, em testes clínicos, redução no acúmulo de placas de proteína beta-amiloide no cérebro, um dos principais fatores associados ao avanço da doença. Segundo os estudos, o medicamento pode retardar a progressão do Alzheimer leve em cerca de 27%.

Apesar da aprovação, a comercialização ainda depende de definições sobre preço e incorporação ao sistema de saúde. Especialistas alertam que o tratamento exige diagnóstico precoce e acompanhamento especializado, o que representa um desafio para o sistema de saúde pública no Brasil.
Histórico e tratamento no Brasil
A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência, representando cerca de 60% a 80% dos casos diagnosticados globalmente. No Brasil, estima-se que aproximadamente 1,7 milhão de pessoas vivam com algum tipo de demência, sendo o Alzheimer responsável por cerca de 55% desses casos, o que equivale a aproximadamente 966 mil indivíduos.
Estudos apontam para disparidades significativas no diagnóstico e tratamento do Alzheimer entre diferentes grupos étnicos no Brasil. Pacientes negros, por exemplo, podem demorar de 5 a 6 anos a mais para receber um diagnóstico de Alzheimer em comparação com pacientes brancos. Além disso, apenas cerca de 50,9% dos pacientes negros recebem indicação para realizar exames diagnósticos, como a ressonância magnética, enquanto as taxas são de 60% entre brancos e 67% entre latinos.
Essa desigualdade no acesso ao diagnóstico precoce pode levar a atrasos significativos no início do tratamento, impactando negativamente a qualidade de vida dos pacientes negros e de suas famílias. Além disso, a mortalidade por demência no país cresceu 65% entre pacientes negros entre 2019 e 2020, enquanto houve uma redução de 9% entre pacientes brancos no mesmo período.
A decisão da Anvisa representa um avanço importante para milhares de famílias que convivem com a doença no país e acende o debate sobre acesso a terapias inovadoras e políticas públicas de apoio a pessoas com Alzheimer.
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