Há quatro anos nascia o Notícia Preta, indo ao ar no dia 20 de novembro. Um portal jornalístico antirracista criado pela jornalista Thais Bernardes, que foi tomando forma e tornando-se referência. Hoje, com mais de 400 mil seguidores nas três principais redes sociais, o portal carinhosamente chamado de NP, se propõe a ser um instrumento de combate ao racismo.
Tudo começou enquanto Thais Bernardes trabalhava como Coordenadora de Comunicação de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, e se incomodava com as constantes demandas que chegavam dos jornalistas, em busca de uma personagem: uma mãe negra sofrendo. Indignada, a jornalista decidiu romper com esse ciclo.
“Esse não é um jornalismo que eu quero fazer, eu faço um jornalismo diferente. Eu faço jornalismo antirracista onde pessoas pretas não são estigmatizadas, onde eu não exploro dor de mãe preta e uso antecedentes criminais. E assim nasceu o Notícia Preta”, conta Thais. A jornalista aproveitou para “escurecer” que o portal, que já funcionava no Instagram, teve o site indo ao ar no dia 20 de novembro por acaso, coincidindo com o Dia da Consciência Negra.
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Dentre as dificuldades durante a criação do NP, Thais ressalta os problemas com a viabilização financeira do jornal. “Fazer jornalismo independente e com praticamente poucos investimentos é um grande desafio no Brasil”, desabafa a jornalista, que completa explicando por quais motivos outros portais de notícias com menos tempo que o Notícia Preta, comandados por pessoas brancas, possuem mais investimento.
“A questão racial no Brasil nunca foi um interesse da imprensa, e muitas vezes não é um interesse das marcas. E outro ponto, é que não enxergam o NP como um jornal, acham que é rede social. E ele é um portal de notícias como tantos outros, como o G1, UOL. Então, eu analiso que a nossa evolução está sendo feita na resistência e na consistência, e cada ano a gente se profissionaliza mais, tem um nome respeitado no mercado e pelas marcas”.
Feliz com evolução do portal, Thais conta que espera que o NP continue a crescer, e que daqui a 1 ano a redação tenha o dobro de pessoas e que a Escola de Comunicação Antirracista, que faz parte do Notícia Preta, forme ainda mais pessoas.
Mais que um jornal
Para fazer o Notícia Funcionar, Thais conta com um time de mais de 20 pessoas comprometidas em fazer as engrenagens funcionarem. A jornalista afirma que hoje, o núcleo do NP possui pessoas que acreditam no trabalho feito no jornal, que começaram como voluntárias e hoje são contratadas. Para a jornalista, isso não poderia ser diferente, já que é exatamente isso que torna o portal tão potente.
“Um sonho sonhado sozinho é muito sem graça, e o bom de sonhar o Notícia Preta é que ele é um sonho coletivo. Eu poderia ter uma outra forma de gestão do meu negócio, mas quando eu começo a entender que o que a gente faz não é jornalismo apenas, e também transformação social, toda a minha forma de gerenciar a minha empresa é diferente do mercado tradicional, e tem que ser”, explica Thais.
Ainda sobre os profissionais que passam pelo Notícia Preta, Thais comenta que não procura “profissionais ideais, perfeitos e redondos” e sim profissionais mais crus, e dispostos a sonhar e construir este sonho com o coletivo que forma o portal antirracista. Vendo seu sonho realizado, Thais diz que se sente muito feliz pois hoje, este sonho não é apenas dela.
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Para o futuro, Thais Bernardes espera que o NP seja visto, cada vez mais, como uma comunicação integrada de 360º. Ou seja, um portal de notícias que também seja uma Escola de Comunicação Antirracista formando comunicadores, e uma plataforma que oferece esses profissionais para o mercado de trabalho.
“Eu quero que o Notícia Preta seja entendido como um grande grupo de comunicação. Nós somos diversas coisas, nós somos plurais, e formamos comunicadores que vão para o mercado de trabalho entendendo que só é possível combater de fato o racismo, comunicando de outra maneira. E no Notícia Preta a gente sabe qual é essa outra maneira: é antirracista”.
E com isso, Thais continua sonhando e prospectando novos ares para o Notícia Preta, com um time de profissionais contratados e remunerados em uma sede física que funcione tanto a redação quanto a Escola de Comunicação e Equidade Racial. Hoje, são 4 anos de NP, com colaboradores de diferentes estados do Brasil, e muitas ideias em andamento.
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