Após um despacho ser deixado na porta da Escola de Samba Portela, em Madureira, zona Norte do Rio de Janeiro, o babalorixá Pai Marcio T’Baru, do Ilê axé obá Inã, explica que não existe religião ruim, mas pessoas que utilizam da religião para malfeitos.
“Na realidade, as pessoas que são ruins. Não existe religião ruim. Conheço evangélicos que são ruins, pensam de forma ruim, agem no dia a dia com posições negativas, católicos também. Ou seja, a parte negativa está na pessoa e não na religião”, afirma Pai Marcio.
O caso aconteceu na madrugada da última terça-feira (6), e, ainda na quarta pela manhã, o mestre de bateria Nilo Sérgio, defumou as fantasias dos ritmistas dentro do barracão da escola. A defumação é um fundamento, principalmente das religiões de matrizes africanas, utilizado para realizar a limpeza do ambiente ou corporal, dentre outras funções da defumação.
Pai Marcio explica ainda que, da forma que o despacho foi feito, é voltado para a negatividade, para as coisas não andarem da forma como deveria ser. “A garrafa de cabeça para baixo já diz tudo, quando a vida de alguém está de cabeça para baixo, nada vai bem. Ou seja, para as coisas não caminharem, para a Portela ou para alguém de lá”, explica.
Ainda segundo o Babalorixá, o despacho deixado na porta da Águia Altaneira de Oswaldo Cruz é um trabalho negativo, preparado para que as coisas possam sair do rumo previsto. Ele alerta também que a maioria desses trabalhos são feitos para o mal.
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“Infelizmente, as pessoas usam da religião para essas coisas. Não só usa para aplicar o bem, em busca de caminhos abertos, de amor, de prosperidade, de paz. Infelizmente, a grande maioria das pessoas procuram a religião para fazer o mal”, lamenta.
Defumação
Mestre Nilo Sérgio defumou as fantasias dos ritmistas da Escola e pediu que Xangô, o Orixá ligado à Justiça seja seu “advogado nesta causa”. A Portela entra na avenida na segunda-feira (12), com um enredo escrito pelos carnavalescos Antônio Gonzaga e André Rodrigues, baseado no romance Um Defeito de Cor, da escritora Ana Maria Gonçalves. A escola de Madureira vai mostrar a força da mulher negra e as heroínas pretas do Brasil.