Maria Bonita e Lampião tem crânio reconstruído pela USP

Maria Bonita e Lampião

Após 3 anos e meio de investigações, os fragmentos do famoso casal nordestino deixaram os laboratórios da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Duas caixas de madeira, temporariamente armazenadas em um museu, em São Paulo, contêm um novo capítulo da rica história de Maria Bonita e Lampião.

No início dos anos 2000, as netas do casal foram informadas de que o cemitério, em Salvador, onde os crânios estavam enterrados, poderia sofrer alterações, colocando as ossadas em risco. Em setembro de 2021, os dois crânios foram enviados para o Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Crânios de Lampião e Maria Bonita.
Foto: G. Ceccantini

A equipe de especialistas tentou coletar material genético​ para compará-lo com o DNA de familiares, mas essa tentativa não teve sucesso. Os pesquisadores especulam que a manipulação frequente, e o armazenamento dos crânios em diversas soluções, como querosene e solução salina, podem ter comprometido qualquer resquício de material genético que pudesse ser analisado. Entretanto, a identidade dos crânios não é contestada.

Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, nasceu em 1897, em Vila Bela, em Pernambuco. Ele se envolveu no cangaço aos 19 anos, impulsionado por vingança e conflitos familiares. Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, nascida em 1910, em Malhada da Caiçara, na Bahia, é reconhecida por sua associação com Virgulino, e por sua memória como Rainha do Cangaço.

Leia mais: “Fome do mundo seria erradicada com 2% dos gastos investidos em armas”, afirma Daniel Balaban

O trabalho de reconstrução dos crânios representou a primeira grande tarefa da equipe de pesquisa. O crânio de Maria Bonita se encontrava em melhor condição, enquanto o de Lampião foi recebido em pedaços. Conforme o relatório da equipe de pesquisa, a história do cangaço, marcada por polêmicas e disputas, teve início no Nordeste no final do século XIX

Para algumas pessoas, eram homens que buscavam justiça social; para outras, eram criminosos notórios por sua violência, assassinatos e estupros. O grupo de Lampião foi assassinado em Angicos, no dia 28 de julho de 1938. Um total de 11 cangaceiros tiveram suas cabeças cortadas, algumas enquanto ainda estavam vivos, e foram expostas na escadaria de uma igreja, em Piranhas, Alagoas.

Partes do crânio de Lampião.
Foto: M. Okumura

Entre 1944 e 1969​ as cabeças permaneceram expostas no Museu do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em Salvador. Em 1969, a família conseguiu permissão para enterrar os restos mortais do casal no Cemitério Quinta dos Lázaros, também em Salvador. Em 2002, a custódia dos crânios passou a ser responsabilidade de Expedita e Vera Ferreira, que eram filhas de Expedita e netas do casal, na cidade de Aracaju, até 2021.

O relatório da reconstrução descreve em detalhes o trabalho minucioso realizado pela equipe de especialistas. Closs, que está cursando pós-graduação no programa de fisiopatologia experimental da Faculdade de Medicina da USP, enfatiza que “para além de herói ou bandido, a gente pode olhar para o ser humano”.

Leia mais: Enfermeira denuncia diarista por racismo:”Cabelo de Bombril”

“Eu acho que o grande lance é: eles são personalidades que chamam atenção, mas neste momento acho que não mais pelo que permitiu que se tornassem tão grandes, e sim porque eles são seres humanos. O cuidado com o remanescente humano tem que ser igual ao cuidado por ser humano vivo”, afirmou.

A bisneta Gleuse declara que a etapa seguinte é concretizar o projeto de um museu que abrigará a coleção mantida pela família. “Já tem o terreno, e a gente espera ​’construir o museu​’ daqui a três anos. A gente está no desenvolvimento do projeto”, disse ela. De acordo com Gleuse, a coleção inclui armas, um punhal, um fio de cabelo de Maria Bonita, joias e fotografias.

Reconstrução dos crânios de Lampião (à esq.)
e o de Maria Bonita (à dir.), segundo a USP.
Foto: G. Ceccantini

“O Memorial do Cangaço conta com o aval e a curadoria da família Ferreira. A proposta vai além de um museu tradicional: queremos um espaço que seja também um centro de estudos sobre o fenômeno do Cangaço, um local onde documentos, objetos, comportamentos e toda a riqueza cultural e histórica desse período sejam pesquisados e preservados ”, contou ela.

“A família tem a expectativa de ceder o acervo que está sob sua guarda, garantindo que o público possa conhecer de perto objetos pessoais, armas e outros bens que pertenceram a Lampião e a Maria Bonita”, explicou Alex Daniel, advogado da família de Lampião e Maria Bonita, concluiu ela.

Leia também: “Se tiver qualquer sinal de censura, não vamos apoiar”, diz político da direita sobre projeto para proibir adultização na internet

Púrpura Santana

Púrpura Santana

Púrpura é uma multiartista paraibana, escritora, atriz e roteirista, que traz consigo um domínio peculiar sob as palavras.

Deixe uma resposta

scroll to top