Liderança das Mães de Manguinhos ganha prêmio global e cobra ação da ONU contra a violência policial no Brasil

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Ana Paula Gomes de Oliveira, uma das vozes do grupo Mães de Manguinhos, no Rio de Janeiro, foi reconhecida internacionalmente nesta quarta feira (26) ao receber, em Genebra, o prêmio Martin Ennals, considerado uma das maiores distinções globais dedicadas à defesa dos direitos humanos. Ela se tornou a primeira brasileira a ser escolhida pelo júri formado por dez entidades de referência mundial, incluindo organizações históricas do setor.

A trajetória que colocou a Ana no centro do debate sobre violência estatal começou com um pesadelo em 2014, quando seu filho, Johnatha de 19 anos, foi morto com um tiro nas costas disparado por um policial da UPP enquanto caminhava rumo à casa da namorada. A partir daquele episódio, nasceu o grupo Mães de Manguinhos, que reúne familiares de vítimas do Estado. A mobilização conseguiu levar o processo ao júri popular. Mesmo assim só ano passado, o policial acusado pelo homicídio foi condenado por homicídio culposo. A Defensoria Pública recorre para que o caso seja reconhecido como homicídio doloso.

O Movimento Mães de Manguinhos é formado por mulheres que tiveram seus filhos assassinados no Rio de Janeiro e reivindicam justiça – Foto: reprodução redes sociais.

Na cerimônia, realizada onze anos depois do assassinato de seu filho Johnatha, Ana Paula emocionou o público ao relembrar sua luta por justiça. “Estamos cansadas de esperar e lutar por justiça. Esse prêmio não ameniza a nossa dor, mas dá visibilidade e fortalece nosso grito. E é através da minha voz que eu honro a memória do meu filho e de todos os outros filhos que perderam suas vidas pelo Estado brasileiro”, afirmou. Ela também destacou que receber a homenagem é marcante por ser “mãe do Johnatha, mulher negra e defensora dos direitos humanos, nascida e criada na favela de Manguinhos”.

Ao subir ao palco, Ana Paula afirmou que precisou “transformar a dor da perda” em enfrentamento ao racismo e à violência institucional e dedicou o prêmio ao filho e à vereadora Marielle Franco. Ela também fez um apelo para que a ONU pressione o Brasil a reduzir a letalidade policial, ressaltando que o Estado deve ser responsabilizado “em todas as cadeias de comando”.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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