O levantamento “Custos da violência armada: Estimação e análise dos gastos com vítimas de arma de fogo atendidas na rede hospitalar do SUS”, realizado pelo Instituto Sou da Paz, publicado nesta quinta-feira (16), mostrou que o Brasil registrou cerca de 40 mil mortes por armas de fogo anualmente, entre os anos de 2010 e 2020.
Além disso, o estudo mostrou que, em 2020, foram registradas no país 17,2 mil internações decorrentes de lesões provocadas por arma de fogo que totalizaram um custo de R$ 37,8 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS). Para Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, é preciso analisar o impacto que a disponibilidade de armas de fogo traz ao país no atual contexto de flexibilização. “A arma de fogo é instrumento reconhecido como fator de risco à violência inclusive pela área da saúde e que resulta em agravos evitáveis que consomem recursos que poderiam ser destinados a outras demandas”, diz.
Vítimas
As agressões são a principal causa dessas lesões, seguidas pelos acidentes com arma de fogo e, segundo os dados, a maioria são pessoas negras. Em 2020, 57% dos pacientes internados por violência armada no SUS eram jovens (15-29 anos), 91% eram homens e 56% eram pessoas negras. Os homens ficam mais tempo internados, com custos e taxa de mortalidade maiores, o que possivelmente indica a maior gravidade das lesões por violência armada que vitimam homens em comparação com mulheres.
As vítimas negras são 56% dos internados, porém, como no conjunto de óbitos provocados por arma de fogo essa proporção chega a 76%, deduz-se que a participação da população negra nas internações está bastante subestimada, considerando ainda que falta informação sobre raça/cor em ¼ dos registros hospitalares.
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O relatório também revela que, além de mais vitimada por armas de fogo, a população negra conta com um sistema de saúde mais deficitário: o custo médio da internação por violência armada é menor entre vítimas negras em comparação às não negras, assim como a disponibilidade de profissionais da saúde é menor nos estados com maior proporção de população negra, o que sinaliza para uma sobreposição de vulnerabilidades. “O estudo identifica a desigualdade racial entre as vítimas de violência armada internadas na rede hospitalar, sinalizando mais uma vez para a urgência de reconhecer e enfrentar o racismo estrutural que tem entre seus efeitos a acentuada vitimização da população negra por violência”, comenta Carolina Ricardo.
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