Julho das Pretas: “O meu legado é a transformação social”, diz Patrícia Santos da EmpregueAfro

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Patrícia Santos, CEO e Fundadora da EmpregueAfro – principal consultoria de Recursos Humanos do país, focada em diversidade étnico-racial -, trabalha em prol da diminuição das desigualdades raciais no mercado de trabalho, e ocupando um lugar de liderança na empresa que criou a partir da sua vontade de transformar vidas.

Neste Julho das Pretas, mais especificamente nesta terça-feira (25) em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, Patrícia Santos conversou com exclusividade com o Notícia Preta sobre sua carreira, sobre as motivações de criar sua própria empresa, sobre empregabilidade e comunidade negra, e claro, sobre ser uma mulher negra diante as dificuldades.

Para Patrícia Santos, formada em Pedagogia e Gestão de Pessoas, o trabalho que desenvolve na EmpregueAfro lhe passa a sensação de missão cumprida. “Eu entendo que eu estou exercendo parte da minha missão e o meu legado é a transformação social, a diminuição das desigualdades sociais entre brancos e negros no mercado de trabalho, a conscientização da comunidade branca e a ascensão de pessoas negras. A transformação está acontecendo. É lenta, mas está acontecendo“.

Patrícia Santos, CEO e Fundadora da EmpregueAfro /Foto: Arquivo Pessoal

A executiva que afirma ter dias com choros de felicidade e de tristeza, diante as violências raciais encaradas no dia a dia, e que é um desafio todos os dias.

Eu falo para o meu time que estamos em uma balança constante. De um lado é desgastante pois a gente enfrenta o racismo todo dia, não só com os profissionais que a gente acompanha, mas no meu caso também com os meus filhos, marido. Mas por outro lado, também é muito gratificante. Pois conseguimos recolocar cerca de 30 pessoas por mês, faço treinamentos em empresas com esse viés racial“, conta Patrícia, que afirma receber feedbacks positivos de quem tem os sonhos realizados pela iniciativa, e das próprias empresas.

Trabalhar em prol da comunidade negra traz o reconhecimento para a nossa comunidade também, que eu conquistei nos últimos anos após a exposição em um programa matinal na maior emissora aberta da América Latina“, diz Patrícia sobre o tempo que participou do time de especialistas do programa “Encontro com Fátima Bernardes” da TV Globo, entre 2017 e 2021.

O início da história de Patrícia com o RH, segundo ela, já começou com o propósito de transformar a realidade de pessoas negras. “Eu escolhi a área de RH pois eu entendi que eu podia ser ponte para oportunidades profissionais para o povo preto. Desde que eu comecei eu adorei saber que através dos processos seletivos que eu fazia era possível alcançar o nosso povo e mudar a vida das pessoas“.

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E assim chegou a empresa comandada por Patrícia, que afirma ter nascido como um projeto social para orientar as pessoas negras sobre como deveriam se comportar na entrevistas de emprego e sobre como montar o currículo: A EmpregueAfro.

Avaliando a questão da conexão de pessoas negras com as empresas, Patrícia afirma que fica satisfeita com a evolução dos últimos anos, mas que ainda há muito o que ser feito.

Com a legislação e a pressão das redes sociais a questão da empregabilidade tem sido mais pauta nas empresas, tanto que hoje falamos sobre trabalhabilidade, e as responsabilidades que o trabalho te traz e o que você pode fazer para realizar os seus sonhos pela vida profissional. Então é bom ver as empresas investindo, mas as ainda há muito o que se feito“, pontua a executiva que ainda percebe que a desigualdade é muito grande no Brasil.

Apesar para transformar o cenário da desigualdade que ainda acomete o país e a estrutura dos conglomerados empresariais.

As pesquisas mostram que nós são somos proporcionalmente distribuídos nas grades, nos níveis hierárquicos das grandes empresas, principalmente nas grandes multinacionais. Só tem 4% de pessoas negras em cargos de liderança, segundo estatísticas recentes do Instituto Ethos, para nós mulheres negras é ainda mais difícil pois somos apenas 0,4% de executivas negras. Então falta muitas ações na prática afirmativas de inclusão e promoção, principalmente nas lideranças“, desabafa Patrícia.

Pensando em inspirações e exemplos a serem seguidos, Patrícia destaca a apresentadora e jornalista norte-americana Oprah Winfrey, e a ex-primeira dama dos Estados Unidos, Michele Obama.

Patrícia afirma que tem estudado bastante a estrutura das empresas nacionais para entender o ambiente no qual trabalha, e destaca os desafios de trabalhar como CEO de uma empresa em uma estrutura racista como a sociedade brasileira. “É um grande desafio entender como funciona de privilégio das grandes empresas e lidar com ela. É difícil você entender a estrutura, se infiltrar e lutar contra o racismo ao mesmo tempo. Eu chamo isso de estratégia Cavalo de Tróia“.

Mas ela não desanima. Com o trabalho da EmpregueAfro em andamento, Patrícia conta suas expectativas para o futuro do perfil empresarial no Brasil.

Eu sonho em que vai ser noticiado que 30% das empresas brasileiras terão CEOs negros. Eu quero ver negros no poder mesmo, no comando, com o poder da caneta. Eu quero estar viva para ver“.

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Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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