Cinco jovens negros acusam seguranças de um bar nas proximidades da Pedra do Sal, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, de agressão com socos, chutes e até barra de ferro na madrugada do último sábado (11). As vítimas disseram não lembrar do nome do bar e não lembram se tinha letreiro no local.
Uma das vítimas, Andrea Bak, integrante do Slam das Minas, em entrevista exclusiva ao Notícia Preta, afirmou que tudo começou quando uma amiga, que estava com ela, identificada como Wakanda, procurava um banheiro.
“A Wakanda me disse que estava apertada, e aí eu fui procurar um banheiro para ela. Eu vou à Pedra do Sal com frequência e já tinha visto esse bar aberto algumas vezes. Eu entrei. Quando cheguei lá, três meninas brancas estavam na minha frente dançando, e eu perguntei onde era o banheiro. Elas me levaram e, de repente, senti alguém me cutucando”, conta.
Andrea relatou que estava com Wakanda e mais três amigos homens – todos com idades entre 19 e 21 anos – e foi interpelada pelo barman do local, que também é o dono do estabelecimento. “Ele me cutucou e perguntou quem tinha me deixado entrar. Nisso, meus amigos e a Wakanda chegaram, aí eu respondi que vi as meninas brancas entrando e achei que pudesse entrar também. Só que o cara se exaltou, começou a gritar que era uma festa reservada, e aí a gente falou que tudo bem. Ele saiu para procurar o segurança e nós estávamos saindo para ir embora procurar outro banheiro, mas o segurança nos parou e começou a botar o dedo na nossa cara. A gente argumentou que só queria usar o banheiro, nada demais, e o dono reclamou porque o segurança tinha deixado a gente entrar. Ficou uma gritaria, e aí o segurança, que é um garoto preto de 20 anos, foi e deu um soco no meu rosto. Eu levei vários socos depois, mas esse foi o primeiro, foi onde tudo começou. Os amigos vieram me defender, e aí o segurança começou a puxar meu cabelo, me enforcou e me bateu mais ainda”, relembra Andrea.
Em meio às agressões, ela conseguiu se desvencilhar e tentou fugir. Na correria, não viu mais os amigos, e o segurança e o barman continuaram a persegui-la pelas ruas no entorno da Pedra do Sal. Quando percebeu, os amigos haviam sido cercados por várias outras pessoas e estavam sendo linchados.
“Ninguém estava entendendo o que estava acontecendo, o porquê daquilo tudo. O segurança me alcançou , me pegou por trás e me enforcou. Aí eu lembro de ver o o dono do bar caminhando na minha direção com uma barra de ferro e bater na minha cabeça. Lembro que alguns ambulantes viram e começaram a gritar, e um homem preto, ambulante também, se meteu na minha frente para me defender e acabou apanhando junto. Eram mais de 10 pessoas batendo em nós cinco. Quando esse ambulante se meteu, eu consegui fugir de novo. Corri e só fui conseguir encontrar meus amigos lá na frente, já bem longe da confusão. Se aquele ambulante não tivesse se metido, eu provavelmente não sairia dali com vida”, afirma.
O grupo, então, decidiu ir para a delegacia. Muito machucados, caminharam até a 5ª DP, na Avenida Gomes Freire, no Centro. Lá, foram informados de que o registro deveria ser feito na 4ª DP,na Praça da República. Os cinco, então, se dirigiram até o local. Uma vez lá, disseram que era necessário ir ao hospital primeiro. Foram até a emergência do Hospital Municipal Souza Aguiar, uma das principais unidades públicas do país. Segundo Andrea, eles chegaram lá às 4h de sábado e só saíram às 21h da noite. Exaustos, foram todos para casa.
“Só chegamos em casa ontem à noite e tudo o que fizemos foi tentar descansar. Eu já tenho os dados do barman e do segurança, que é um MC, um garoto que eu já tinha visto por ali antes. Pelo que vi no Facebook, todos moram no Morro da Providência”.
A polícia civil vai ouvir os jovens ainda esta semana. Eles são aguardados para dar depoimento na 4ª DP.
Página do Slam das Minas postou ocorrido
Nas primeiras horas de sábado, um texto na página de Facebook do Slam das Minas relatou o ocorrido com os jovens:
“Na madrugada do dia 11 de janeiro de 2020 nós, cinco jovens negros estudantes fomos covardemente linchados pelos seguranças e donos do primeiro bar após a pedra do sal. A agressão foi após um ato de racismo no qual fomos impedidos de usar o mesmo banheiro que frequentadores brancos. Os criminosos usaram barra de ferro, taco de basebol, socos e ameaça com arma de fogo contra 3 meninas e 2 rapazes desarmados. A confusão atraiu linchadores que nos bateram enquanto pedíamos socorro. Foi uma agressão gratuita ao nosso grupo e só queremos justiça e que esses homens não façam isso com mais ninguém, até porque já há relatos de que já agrediram mulheres nesse bar. Eles não podem sair impunes disso. Estamos todos lesionados fisicamente e com o psicológico destruído. Na segunda feira, a Pedra do Sal já vai estar lotada novamente e esses caras que nos agrediram comandando o bar novamente. Precisamos de ajuda!!! Fiquem alertas!!!!”, diz a nota.
Crédito das fotos: Divulgação / Instagram2 anexos
O bar em questão é a Bodega do Sal (bem próximo à escadaria) ou o Gracioso (esquina de Sacadura Cabral)? É importante contextualizar direito o local correto dos fatos narrados.
Obs.: em tempo – comportamento totalmente inaceitável da parte dos proprietários e seguranças.