Jovens atletas das periferias de Salvador se preparam para futuro olímpico

unnamed-22.jpg

Matéria publicada originalmente pelo coletivo Entre Becos e repclicada com as devidas autorizações

Os adolescentes Maria Clara, Kerem e Isaac, compartilham uma paixão que transcende a idade: o sonho de um dia representar o Brasil nas Olimpíadas. Moradores das periferias de Salvador, eles são considerados atletas de alto rendimento, dedicam horas diárias ao treinamento, equilibrando estudos e vida pessoal, enquanto se preparam para desafios ainda maiores no futuro.

Desde pequena, a flexibilidade de Maria Clara Gomes, 12, impressionava a avó e a professora no balé. Moradora do bairro de Mirantes de Periperi, ela foi encaminhada ao Centro de Treinamento Talent, escola de ginásticarítmica e aeróbica, localizada no bairro de Paripe e Barris, onde se destacou rapidamente.

“O esporte muda por completo a vida de uma pessoa positivamente. Mudou minha alimentação, minha disciplina, meu foco, encorajamento, empoderamento, qualidade de vida e outros benefícios.”

Kerem (à esquerda) e Maria Clara foram convocadas pela Seleção Brasileira de Ginástica Aeróbica para o Pan-Americano em Lima, no Peru (2023) – Bruna Rocha/Entre Becos 2024

Ao treinar sete horas por dia e cinco vezes por semana, ela acompanha e admira atletas como Lucas Santiago, Tamires Rebeca e Rebeca Andrade. “Eles são as minhas inspirações porque já passaram por onde eu estou passando. Olho para eles e vejo que eu posso chegar lá”, garante.

Sua dedicação já lhe rendeu várias medalhas de competições estaduais, nacionais e internacionais. Maria Clara foi convocada para a Seleção Brasileira de Ginástica Aeróbica, com a qual participou do Pan-Americano em Lima, no Peru (2023).  Neste ano, participou do Campeonato Sul-Americano de Ginástica Aeróbica, que aconteceu em Aracaju, Sergipe, com delegações de oito países. 

Aos 14 anos, nadador já conquistou mais de 136 medalhas em campeonatos – Bruna Rocha/Entre Becos 2024

Já Kerem Santos, 12, moradora do bairro de Plataforma, começou no balé, e também foi direcionada para a ginástica por sua professora, que identificou um potencial para a modalidade. “Minha mãe foi e me colocou no clube Girlane Moura [em Cajazeiras] e com 4 anos participei da minha primeira competição”, lembra Kerem.

Assim como Maria Clara seguiu na carreira, tornou-se outra atleta relevante do Clube Talent e se destacou em competições estaduais, nacionais e internacionais, acumulando inúmeras conquistas e medalhas. Kerem também foi convocada para a Seleção Brasileira de Ginástica Aeróbica, participou do Pan-Americano, em Lima, no Peru (2023), e esteve no Sul-Americano, em Aracaju, Sergipe.

Diariamente, a jovem dedica sete horas aos treinos, uma rotina intensa para quem está focada em um dia competir nas Olimpíadas representando o Brasil. Além desse objetivo, ela já traça planos para oferecer oportunidades a outras crianças e jovens. 

“As Olimpíadas, sei que vai demorar para chegar lá, mas, com esse tempo, quero virar professora e uma atleta de alta performance, espero que eu chegue. Mas se não der, quero ajudar outras crianças a realizarem outros sonhos como o meu”, diz. 

PROMESSA DA NATAÇÃO

Com residênciano bairro de Pernambués,  o jovem Isaac Ribeiro Reis dos Santos, 14, é um talentoso nadador. Começou na natação aos sete anos, na escola Atitude Fitness, em seu bairro, após um quase afogamento. “No começo, eu queria aprender a nadar para não me afogar mais, mas terminei me apaixonando pelo esporte”, conta o atleta.

Isaac já acumula 105 medalhas de ouro, 26 de prata e 5 de bronze, além de 24 troféus em diferentes competições municipais, estaduais e nacionais. Em 2023, após participação no campeonato Troféu Sérgio Silva, o treinador Murilo Moreira Barreto lhe fez o convite para integrar a equipe de natação do Yacht Clube da Bahia (YCB) , um dos maiores clubes da capital baiana e do Norte-Nordeste.

Especialista nas provas de 50 e 100 metros livre e peito, ele treina rigorosamente para continuar baixando seus tempos e ganhando mais competições. “Gosto muito de competir, do ambiente da natação, e quando você treina e baixa seus tempos é muito gratificante”, afirma.

Isaac quer seguir os passos de ícones olímpicos como César Cielo e Michael Phelps. Entre suas metas, quer representar o Brasil nas Olimpíadas e ser o próximo grande nome do país na natação. “Não só em crawl, mas em peito também, o melhor nadador do Brasil”, afirma com determinação. O nadador enumera os benefícios que o esporte lhe trouxe. 

“Ganhei muitas amizades com pessoas que vou levar para o resto da vida e também maturidade para manter a rotina de treino e disciplina. Por causa da natação e o ambiente competitivo, você tem que ter um bom psicológico.”

O OBSTÁCULO FINANCEIRO

Enquanto não recebem apoio por meio de patrocínio, esses jovens atletas mantêm uma rotina de treino, além de participarem de competições em busca de boas classificações que servem como “peneira” e, ao mesmo tempo, vitrine para garantir visibilidade.

Esportes como a ginástica e a natação possuem custos elevados. Existe um esforço coletivo dos familiares, amigos, treinadores e clubes para permitir que os atletas possam encaminhar suas carreiras.

A ex-atleta Eliana Dantas, uma das sócias do Centro de Treinamento Talent Clube e Associação, enfrentou esses obstáculos financeiros. Após desistir da ginástica por falta de recursos, ela idealizou criar um espaço para ajudar essas jovens promessas. 

O clube criado por ela oferece a prática de ginástica rítmica e ginástica aeróbica pela taxa de mensalidade de R$ 150. Esse valor cobre custos operacionais da instituição, pagamento de professores, tablado e outros materiais necessários para a prática do esporte. 

Atualmente, há um núcleo de iniciação no subúrbio e os atletas do alto rendimento esportivo treinam em uma escola nos Barris, mas o projeto precisa de patrocínio.

Os três atletas citados nesta matéria contam com apoio do Bolsa Atleta Salvador, programa que apoia financeiramente atletas e paratletas dentro dos requisitos estabelecidos na Lei Municipal nº 9.738/2023, no Decreto 37.730 de 14 de novembro de 2023.

Reportagem de Cristiana Fernandes
Fotografia de Bruna Rocha
Edição de Cleber Arruda e Rosana Silva

Leia também: Como mães pesquisadoras periféricas conciliam as atividades do lar e da universidade

Deixe uma resposta

scroll to top