O jovem Hiago Gabriel do Monte Rodrigues (25) denunciou um episódio de racismo na loja Riachuelo do Shopping Patteo Olinda, em Olinda, Pernambuco. Hiago registrou, em dezembro de 2022, um boletim de ocorrência por ter sido chamado de ladrão por uma segurança do estabelecimento. O que mais espanta é a demora para a Polícia Civil dar prosseguimento ao caso. Somente agora, quatro meses após o ocorrido, Hiago Gabriel recebeu uma ligação da delegacia de Rio Doce, bairro de Olinda, para dar continuidade ao processo.
O rapaz, que está desempregado no momento, ganha a vida trabalhando com serviço de entregas para aplicativos enquanto não consegue emprego em sua área de auxiliar de farmácia. O preconceito já foi muito experienciado por ele, conta Hiago, mas nada como o que ocorreu na Riachuelo.
O motoboy foi fazer compras de fim de ano na loja com a família e estava carregando caixas de brindes dados pelo próprio shopping. Após pedir uma sacola para colocar os pertences, Hiago saiu da loja para pegar um carrinho para a filha, enquanto a esposa e a menina olhavam as roupas. Entretanto, o pai de família mal conseguiu sair da loja.
“Uma mulher da segurança da Riachuelo gritou no meio do corredor lotado ‘volte e devolva as coisas que você roubou’, entendi na mesma hora que era comigo, por isso voltei logo, mas veio outro segurança, um homem, e passaram a me tratar como ladrão na frente dos outros clientes”, relata Hiago.
Ele ainda conta que, com muita vergonha e raiva, solicitou a presença da gerência, esvaziou a sacola e mostrou todos os pertences. Quando a esposa chegou com a bebê, os funcionários perceberam o que fizeram e começaram com os pedidos de desculpas. “Minha esposa me ajudou a gravar um vídeo contando o que houve dentro da loja, mas os seguranças se esconderam. Na segunda-feira, fui na delegacia dar queixa”, conta.
O boletim de ocorrência tem o título de “calúnia” e não há qualquer referência a racismo. “Quando cheguei em casa, me acabei de chorar. Foi a maior vergonha da minha vida”, relata Hiago.
O silêncio da polícia
Ao prestar queixa, Hiago informou a polícia sobre as câmeras de segurança da loja. Em janeiro, quando retornou a delegacia, o rapaz foi informado que teria acesso às gravações se viesse acompanhado de um advogado. “Procurei uma advogada, mas ela disse que cobra R$ 200 só para ir lá comigo. Não tenho esse dinheiro”, lamentou o jovem. Ele acredita que esse tratamento dado pela Polícia também é racista: “Se eu fosse branco e com dinheiro, já teria visto as imagens, a polícia já teria se mexido para fazer alguma coisa”.
Quando questionada sobre o caso, a Polícia Civil deu o seguinte pronunciamento: “A Polícia Civil de Pernambuco, por meio da Delegacia de Rio Doce, informa que as devidas providências com relação ao caso estão sendo tomadas. Mais informações não podem ser repassadas no momento”.
Nesse mês de abril, quatro meses depois, Hiago compareceu à delegacia após o telefonema, acompanhado de uma advogada do Projeto Oxé, uma parceria entre a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) e a Articulação Negra de Pernambuco (Anepe) para oferecer assessoria jurídica e atendimento psicológico para vítimas de racismo.
A empresa Riachuelo apenas solicitou mais informações sobre o caso.
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