Presente ano passado na programação da Casa Insubmissa de Mulheres Negras, que aconteceu paralelamente às mesas oficiais, Jarid Arraes foi confirmada esta semana como autora convidada a participar oficialmente da 17ª edição da Flip. O evento será realizado entre os dias 10 e 14 de julho em Paraty.
Autora de As Lendas de Dandara, Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis e Um buraco com meu nome, a escritora, cordelista e poeta cearense mobiliza formas tradicionais e questões de ancestralidade na construção de uma literatura de luta e engajamento político. Em junho deste ano, lança seu primeiro livro de contos, Redemoinho em dia quente. É também curadora do selo literário Ferina, da Pólen Livros, dedicado à publicação de escritoras mulheres.
“Jarid Arraes é uma autora híbrida: suas referências são uma mistura de Cariri com Lady Gaga. Ela bebe nas tradições e em sua própria história familiar, ao mesmo tempo em que as subverte, olhando sempre com seriedade para as questões políticas deste momento. Sua escrita tem o frescor potente de quem se desloca para conhecer outras paragens, geográficas e metafóricas”, diz a Fernanda Diamant, curadora da 17ª Flip.
A autora e as obras
Jarid Arraes nasceu em Juazeiro do Norte, no Ceará, em 1991, e atualmente vive em São Paulo. Filha e neta de cordelistas e xilogravadores, teve contato desde muito cedo com a cultura nordestina tradicional, especialmente com a literatura de cordel. Aos 20 anos, já atuava em blogs e outras plataformas on-line, e em redes de discussão feministas. Foi colunista da Revista Fórum de 2013 a 2016, colaborando com textos sobre questões de gênero, raça e cultura.
Em 2012, a autora deu início à publicação de cordéis, motivada pela vontade de manter viva a tradição familiar e, ao mesmo tempo, de encontrar uma voz própria, que diversificasse os temas e os personagens até então retratados. Hoje, ela conta com mais de 60 cordéis publicados – muitos sobre mulheres negras, como Carolina Maria de Jesus, Luísa Mahin e Maria Firmina dos Reis, ou sobre questões de identidade, passando por gênero, raça e sexualidade. Com dezenas de milhares de cópias vendidas de seus livros, ainda hoje é a própria Jarid Arraes quem cuida de imprimir, montar e vender os cordéis.
A escrita de Jarid Arraes é um ato político, feito a partir de um trabalho de pesquisa e resgate da memória social, coletiva, familiar e local. Porém, não se prende apenas às formas do cordel: em seu livro de poemas Um buraco com meu nome, diversifica seus temas e experimenta outras técnicas de escrita, partindo para a poesia lírica, sob influência, segundo a própria autora, de escritores como Sylvia Plath e Augusto dos Anjos.
Seu livro As Lendas de Dandara deve ganhar adaptação para a TV Globo.