O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) recebeu uma solicitação de tombamento do túmulo de Madame Satã, figura artística que marcou a cultura LGBTQIAP+ no Brasil. A ação, movida pelo pesquisador Baltazar de Almeida, visa a preservação e lembrança da memória do artista, cujo o túmulo se encontra no Cemitério da Vila do Abraão, em Ilha Grande, Rio de Janeiro.
Em nota ao Notícia Preta, o IPHAN informou que o processo de tombamento foi aberto em 20 de março de 2025. “Atualmente, o processo está em fase de instrução, etapa que compreende a realização de estudos técnicos e demais procedimentos necessários à análise da proposta”, diz a nota.
Segundo informações fornecidas ao jornal Extra, com o tombamento, os responsáveis integrarão o local a roteiros turísticos que visam valorizar a cultura e a história negra e LGBTQIAP+, como o projeto ‘Madame Satã para Sempre’, que estão desenvolvendo na região.

Ao Notícia Preta, Baltazar, que tambem e estudante de turismo e ativista pelos direitos das pessoas LGBTIs, exlica or qual motivo ediu a solicitacao. “Ao longo de nossa pesquisa por novos atrativos e histórias locais de Angra dos Reis, nos esbarramos com um blog que contava a história de Madame Satã, sua importância cultural, sua vivência em Angra dos Reis e a localização de seu túmulo. Com isso, me aprofundei ainda mais sobre a história de João Francisco / Madame Satã“.
Ele continua: “Tenho uma memória afetiva pelo local, e saber que ali tínhamos uma figura tão importante da resistência Afro-LGBTI+ brasileira me fez ter ainda mais motivações de fazer o resgate da história de Madame Satã. Busquei maneiras de salvaguardar esse monumento histórico e cultural. Desde então, venho me aprofundando ainda mais sobre a vida, legado e importância de Madame Satã para a cultura preta e queer de Angra dos Reis, do Rio de Janeiro e do Brasil“.
Quem foi Madame Satã?
Nascido no interior do Pernambuco em 1900, João Francisco dos Santos, ou Madame Satã, foi para o Rio de Janeiro ainda criança, onde chegou a viver na rua e cometeu pequenos furtos antes de conseguir seus primeiros empregos no bairro da Lapa, reduto da boemia carioca.
João, que em meio aos seus empregos, virou capoeirista e conhecido malandro na região. Em 1928 entra para a vida artística, interpretando no teatro de revista a Mulata do Balacochê. Em 1938, ganharia o apelido de Madame Satã, pelo qual ficaria conhecido, por conta de uma fantasia que o faria vencedor de um concurso.
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Viveu entre idas e vindas da prisão por diversos crimes, desde roubos a homicídios. Madame Satã, em entrevista ao Jornal “O Pasquim” em 1971 disse que “não tolerava o tratamento que (policiais) davam às pessoas, principalmente quando eram consideradas suspeitas, tornando-se ainda mais violentos, como ainda hoje costumam ser, quando se tratavam de pobres, negras e homossexuais, três identidades que Madame Satã acumulava.” Na mesma época lançou sua autobiografia, aos 71 anos.
Madame Satã morreu em 1976, em decorrência de um cancer pulmonar.