Instituído em 2007, por meio da Lei nº 11.635, o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa é comemorado no dia 21 de janeiro em todo território nacional, e marca um passo importante de difusão de uma agenda de respeito à diversidade religiosa brasileira.
Ainda assim, os casos de violência religiosa são frequentes, atingindo principalmente os fiéis das religiões de matriz africana: umbanda e candomblé. De acordo com um relatório da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), que entrevistou 255 lideranças religiosas em todo o país, 99% dos entrevistados já sofreram algum tipo de ofensa por conta da religião.
De acordo com Pandro Nobã, que é artista e também é sacerdote de Umbanda, a data tem uma grande importância para conscientizar a população que ataques religiosos são atos criminosos. “Se o Estado é laico, isso precisa ser colocado em prática. Que a gente possa ter liberdade de cultuar nossos guias espirituais e nossos orixás”.
Apesar de reconhecer a importância da lei, o artista reforça que, na prática, para as religiões de matriz africana deixarem de ser perseguidas e atacadas, é preciso um esforço coletivo, inclusive de membros de outras religiões. “O problema é ver tantos ataques a terreiros, e não se posicionarem. Os líderes precisam ter comprometimento”.
O próprio Pandro, que representa tanto a Umbanda quanto o Candomblé em suas obras, fazendo parte, por exemplo, da exposição “Um defeito de Cor”, no Museu de Arte do Rio (MAR), conta já ter sofrido violência por conta da religião e que por isso evita produzir em outro lugar que não seja na tela.
“Quando eu pinto na rua, já fui xingado…e eu moro em um lugar perto de um complexo de favelas que se intitula como Complexo de Israel, que proíbe o uso de vestimentas de terreiro e fios de conta. Um dia eu estava fazendo um trabalho, vestido de branco, e eu fui mandado embora de lá de uma forma bem opressora”, conta o artista que afirma que lidar com os ataques de intolerância religiosa não é fácil.
Mas Pandro Nobã não desiste da sua arte. Intitulado por ele como “arte de terreiro”, o artista conta por qual motivo coloca os elementos das religiões de matriz africana em suas obras.
“Esse meu trabalho vem como forma de resgate da minha própria história e também como um resgate ancestral, trazendo essa narrativa do cotidiano, da cultura de terreiro como uma forma de demonstrar a beleza, a força e o poder que essa cultura tem”, explica.
E esse resgate, para o artista, tem potencial de transformação, já que traz em sua essência uma narrativa representativa e informacional que contribui para a luta antirracista e contra o racismo religioso.
“A informação visual do trabalho acaba atingindo pessoas que não são da religião e que estão em uma sociedade estruturalmente racista. Esse trabalho vai comunicar com quem esteja disposto a conhecer, e levar informação, e a informação é sempre uma boa arma contra o preconceito, e contra o racismo”, conclui.
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