Em um estudo realizado pelos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Arouca (ENSP), vinculada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), revelou que os povos indígenas Munduruku estão com altos níveis de mercúrio no corpo.
A pesquisa analisou alguns peixes de seis Estados e dezessete municípios da região amazônica. O resultado foi associado ao grande avanço das atividades dos garimpos ilegais na região. Inclusive, o estado do Pará aparece em quinto lugar no que se refere às regiões mais afetadas pelas minas ilegais, com cerca de 15,8% de contaminação.
Os estudiosos da Fiocruz estão acompanhando cerca de 80 indígenas Munduruku, com intuito de alcançar respostas claras e científicas e colocando as crianças como prioridade. Um grupo de neuropediatras da USP e de Harvard estão analisando os casos. “A gente começou a notar assim, alguns sintomas de criança, com dificuldade de se movimentar, mobilidade, então, algumas doenças que vinham apresentando e a gente não sabia o que era”, relatou o cacique Jairo Saw Munduruku, em entrevista ao G1.
Na observação, a Fiocruz analisou amostras de cabelo dos povos tradicionais. Só em uma aldeia, pelo menos oito pessoas tinham níveis preocupantes de mercúrio no corpo. Alguns, o dobro, um deles o triplo do aceitável pela OMS. As análises feitas pelo grupo de estudiosos, constatou que os peixes estavam contaminados e o povo Munduruku também.
De acordo com os dados, as mulheres estavam mais infectadas com o mercúrio. Um fator alarmante, pois algumas estavam amamentando e consequentemente contagiando suas crianças.
Além disso, segundo o epidemiologista Paulo Basta, um dos coordenadores dessa pesquisa, em relação às gestantes, os bebês podem nascer com deformidades, com má formação congênita e com diferentes anomalias, podendo apresentar até paralisia cerebral.
De acordo com levantamentos recentes, o Pará é o estado campeão de ilegalidades em minas de ouro, principalmente no entorno da terra indígena Munduruku. Em um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais e o Ministério Público Federal (MPF), foi identificado que cerca de 5,4 toneladas de ouro é de origem ilegal (quase 18% do total é produzido pelo Estado do Pará) apenas nos municípios de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso, onde estão situadas as terras indígenas dos povos Munduruku e Kayapó.
Esse território tem a segunda maior área de minas no país, conforme os dados de desmatamento e vegetação secundária ( MapBiomas). No ano passado, a Polícia Federal (PF) recebeu 320 alertas de minas ilegais dentro dessa terra indígena.
Os Munduruku estão situados em várias regiões e em diferentes territórios brasileiros. No Pará , eles residem no sudoeste, calhas e afluentes do rio Tapajós, nos municípios de Santarém, Itaituba e Jacareacanga.
Eles geralmente habitam em áreas com muitas florestas, às margens de rios navegáveis. Suas aldeias tradicionais são localizadas nos famosos “campos do Tapajós”, no interior da floresta amazônica. A população Munduruku concentra-se majoritariamente na Terra Indígena de mesmo nome, com a maioria das aldeias localizadas no rio Cururu, afluente do Tapajós.
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