Homens, majoritariamente brancos, pagam até R$22 mil em curso para ‘soltar emoções reprimidas’

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Curso de Daniel Bittar — Foto: Arquivo pessoal

Um curso que promete explorar a vulnerabilidade masculina e liberar emoções reprimidas tem chamado a atenção em São Paulo. O “Body&Heart”, criado pelo publicitário Dani Bittar, oferece imersões que variam de três a cinco dias, com valores entre R$ 2,5 mil e R$ 22 mil, dependendo da duração e da localização do retiro. O público-alvo é composto majoritariamente por homens brancos, especialmente gays, interessados no autoconhecimento e no desenvolvimento emocional.

A experiência acontece em uma casa de 600 m², localizada em um bairro nobre da capital paulista, e também em Ilhabela, no litoral. De acordo com uma reportagem do G1, durante os encontros, os participantes realizam práticas sensoriais e afetivas, incluindo rituais de aceitação da nudez e exercícios de meditação. Segundo Bittar, o objetivo é ajudar os alunos a se conectarem com suas emoções e explorarem o que chama de “potencial orgástico” por meio de práticas guiadas.

A proposta do curso inclui atividades como dinâmicas de dominação e submissão, momentos de introspecção e até mesmo exercícios de respiração focados em diferentes partes do corpo. Em algumas etapas, os alunos são convidados a tirar a roupa, caso se sintam confortáveis. Durante um dos encontros acompanhados pela reportagem, alguns participantes choraram ao relembrar experiências dolorosas de relacionamentos passados. “O curso é para isso”, explica Bittar. “Aqui, todo mundo pode sentir. Mas é importante que isso aconteça de forma segura”.

Curso de Daniel Bittar — Foto: Arquivo pessoal

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Dani Bittar, que antes trabalhava com publicidade, decidiu investir no projeto após uma experiência de aprofundamento em espiritualidade na Tailândia. Ele utiliza elementos do tarot e da astrologia, disciplinas que estuda desde a adolescência, para complementar as práticas.

Apesar da proposta considerada por alguns como “inovadora”, a discussão sobre masculinidade e vulnerabilidade não é recente e vai muito além desse tipo de experiência. Autores negros como Bell Hooks, Grada Kilomba e Frantz Fanon já analisaram a construção da masculinidade e seus impactos sociais. Hooks, por exemplo, discute em “The Will to Change” como a masculinidade tradicional impõe barreiras emocionais aos homens. Kilomba, em “Memórias da Plantação”, aborda a interseccionalidade entre raça, gênero e opressão, enquanto Fanon, em “Pele Negra, Máscaras Brancas”, explora os efeitos do colonialismo na construção da identidade masculina negra. Esses pensadores trazem perspectivas fundamentais para o debate, ressaltando que a desconstrução da masculinidade deve considerar também questões raciais e estruturais, e não apenas o autoconhecimento individual.

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