Homem morre esperando por atendimento em UPA no Rio, secretário diz que equipe será demitida

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Garçom e artesão morre enquanto aguardava atendimento na UPA da Cidade de Deus - Foto: Reprodução

A família de José Augusto Mota da Silva, de 32 anos, ainda tenta compreender a sucessão de falhas que culminaram em sua morte na noite da última sexta-feira (13). Garçom e artesão, José Augusto vivia no Rio de Janeiro desde 2012 e foi encontrado sem vida na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade de Deus, na Zona Oeste da cidade, após horas aguardando atendimento.

Nascido em Mogi Guaçu, no interior de São Paulo, José Augusto mudou-se para o Rio em busca de novas oportunidades. Durante o dia, vendia artesanato nas praias cariocas, e à noite trabalhava como garçom em um restaurante na Barra da Tijuca. Apesar das dificuldades financeiras, ele mantinha o sonho de proporcionar uma vida melhor para si e sua família.

Ele era um homem trabalhador, dedicado e sonhador. Decidiu morar no Rio depois de enfrentar a perda da mãe, que o deixou muito abalado. Mesmo com os desafios, ele nunca desistiu“, conta a sobrinha, Emily Larissa, de 19 anos.

Nos últimos meses, José Augusto vivia sozinho em Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, após o fim de um relacionamento. Anteriormente, chegou a morar nas ruas de Copacabana, na Zona Sul da cidade, devido às dificuldades financeiras, mas, com a ajuda de amigos, conseguiu reerguer-se.

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Garçom e artesão morre enquanto aguardava atendimento na UPA da Cidade de Deus – Foto: Reprodução

O descaso que levou à tragédia na UPA

Na última semana, José Augusto havia relatado dores intensas e procurou ajuda médica. Na sexta-feira, com os sintomas agravados, foi levado à UPA da Cidade de Deus por um amigo, o porteiro Douglas Batista da Silva. Segundo Douglas, ele alertou os funcionários sobre a gravidade do caso, mas o atendimento demorou a acontecer.

Ele chegou gritando de dor, vomitando. Falei na recepção que era emergência. Fui para casa cuidar do meu filho e, horas depois, recebi a notícia de que ele havia morrido. Isso é um absurdo“, lamenta o amigo.

Imagens registradas na unidade mostram José Augusto sentado, com a cabeça inclinada, e sem reação. Momentos depois, ele foi colocado em uma maca por um funcionário, mas já era tarde.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a classificação de risco foi feita às 20h30. Minutos depois, a equipe médica foi acionada, mas José Augusto já estava desacordado. Ele foi levado para a Sala Vermelha, onde sofreu uma parada cardiorrespiratória.

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Revolta e busca por justiça

A família está inconformada com o tratamento recebido por José Augusto e pretende processar a prefeitura. Para Meiriane Mota da Silva, de 38 anos, irmã do garçom, o descaso foi fatal:

— Ele poderia estar vivo. Essas pessoas que estavam de plantão na UPA são monstruosas. Ver os vídeos circulando foi um choque para todos nós. Vamos lutar por justiça.

O caso também gerou repercussão nas redes sociais. O Secretário Municipal de Saúde, Daniel Soranz, anunciou a demissão de toda a equipe de plantão e a abertura de uma sindicância para apurar responsabilidades:

— Todos os profissionais serão denunciados aos respectivos conselhos de classe. É inadmissível que não tenham percebido a gravidade do caso — declarou Soranz.

Um adeus precoce

José Augusto deixa uma família de cinco irmãos, que viajou do interior de São Paulo ao Rio de Janeiro para liberar o corpo. O enterro será realizado em Mogi Guaçu. O laudo preliminar do Instituto Médico-Legal foi inconclusivo, e exames laboratoriais ainda serão realizados para determinar a causa da morte.

Para a família, a perda de José Augusto é irreparável. Mais do que um trabalhador esforçado, ele era um homem que carregava consigo os sonhos de dias melhores e a esperança de um futuro digno.

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