Gastronomia social “é resgate”, diz líder de cozinha solidária na Gamboa (RJ)

Capa-Gastromotiva.jpg

“Quem foi que disse que as cozinhas solidárias e a gastronomia social também não são resgate?!“, disse o líder da Cozinha Solidária da ONG Gastromotiva no “Quilombo da Gamboa”, Roberto Gomes. A fala, feita durante o lançamento do minidocumentário “Food, Funk e Favela”, apresentado pela instituição em sua sede na Lapa, Centro do Rio, destaca a importância do projeto.

O Notícia Preta cobriu o evento que aconteceu na última terça-feira (08), quando o cientista social Roberto Gomes relembrou a importância da Zona Portuária do Rio, e a importância do combate a fome. “Eu posso, afirmar categoricamente, eu falo da Zona Portuária do Rio de Janeiro, uma das áreas mais importantes pra esse Brasil como um todo, onde foram desembarcados mais de dois milhões de negros que vieram escravizados de África”, pontuou Roberto.

Líderes das cozinhas solidárias, da esquerda pra direita. Dona Gê de Bonsucesso, Cláudia Queiroga do Engenho da Rainha e Roberto Gomes da Gamboa / Foto: Édipo Ferraz.

De acordo com ele, a Cozinha Solidária da Gamboa atende mais de 72 ocupações de sem-tetos, que vivem nessa região. Ele diz que a maior parte das pessoas que vivem nesses espaços, são mulheres pretas, e sobre tudo, camelôs. “Vivem nesse espaço de completa degradação humana e social, esgoto a céu aberto. São essas pessoas que são acolhidas, neste mesmo local de onde foram desembarcados negros e negras escravizados de África”. Ele entende que a gastronomia restaura a ancestralidade do local.

A Gastromotiva é um projeto que, de acordo com a assessora de comunicação da ONG Maíra Lydia, “não oferece só comida, oferece dignidade as pessoas”, e recebe uma vez por semana no refeitório da Rua da Lapa, beneficiários para um almoço solidário, além de distribuir quentinhas entre as cozinhas solidárias ligadas ao projeto.

Segundo a assessora de comunicação, o espaço foi pensando pra atender pessoas que passam por situação de insegurança alimentar ou fome. Ela explicou que a Gastromotiva oferece capacitação profissional na área de alimentos e bebidas, o que consegue impactar a vida das famílias. O espaço onde os beneficiários são recebidos é montado como um restaurante, que de acordo com Maíra, não oferece só comida, oferece dignidade as pessoas”.

“Quando pensamos em comida pra quem precisa, a gente pensa numa quentinha e objetos descartáveis, mas aqui tentamos promover dignidade, aqui eles tem a experiência que teriam num restaurante, com entrada, prato principal e sobremesa”, disse Maíra.

Refeitório Gastromotiva fica na Rua da Lapa, no Centro do Rio /Foto: Édipo Ferraz.

Enquanto falava sobre o projeto e apresentava os líderes de algumas das cozinhas solidárias, o Chef e empreendedor social David Hertz, que é co-fundador da Gastromotiva, falou sobre a inicitaiva. “Todos que estão aqui acreditam na gastronomia social, ela é o fio que nos une, é onde sentimos que podemos ser mais úteis”.

A Gastromotiva existe há 18 anos e já chegou a ter 130 cozinhas solidárias pelo Brasil. Durante a Pandemia de Covid-19, levou 17 cozinhas solidárias para o estado do Amazonas que sofria crise grave, entretanto, o projeto está sem patrocínios desde 2020, sobrevivendo apenas de doações. O projeto ainda conta com cozinhas solidárias em 9 Estados do Brasil.

Cláudia Queiroga, foi formada pela primeira turma da Gastromotiva, e é responsável pela cozinha solidária do Engenho da Rainha. Ela acredita que a Zona Norte do Rio tem um potencial de pessoas querendo, podendo e fazendo algo pra ajudar os outros.

Ela diz que tem na sua própria história de vida, um grande aprendizado. Ela era chefe de recursos humanos de uma empresa, trabalhava como contadora, e devido ao sonho do filho de virar atleta ela “abandonou” esse sonho. Cláudia entrou na Gastromotiva para formatar o bolinho de pote, e foi presenteada com uma cozinha solidária, como ela conta.

“Eu sempre via uma senhora que catava comida do lixo, e aquilo me incomodava muito. Era início da pandemia, eu não tinha como ajudar. Eu recebi o convite da Gastromotiva para ser cozinheira solidária. Eu só pensei naquela senhora e tive um grande desejo de poder ajudar. Me senti presenteada”, afirma Cláudia.

Leia mais aqui: Famílias chefiadas por pessoas negras são duas vezes mais atingidas pela fome, diz pesquisa

Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

Deixe uma resposta

scroll to top