Às vésperas do Carnaval de Salvador, o Afoxé Filhos de Gandhy anunciou que apenas homens cisgêneros poderão participar do desfile deste ano. A decisão, divulgada na segunda-feira (24) pelo site Dois Terços, gerou repercussão negativa entre ativistas e internautas, que acusam a agremiação de transfobia.
O comunicado afirma: “De acordo com o artigo 5º do Estatuto Social, só poderão ingressar na associação pessoas do sexo masculino, cisgênero. Por isso, a venda do passaporte será apenas para esse público.” Até o momento, o Afoxé não se posicionou publicamente sobre o caso.
Fundado em 18 de fevereiro de 1949 por estivadores portuários de Salvador, o Afoxé Filhos de Gandhy é uma das mais tradicionais agremiações do Carnaval baiano. Inspirado nos princípios de não-violência e paz do líder indiano Mahatma Gandhi, o bloco busca promover a cultura afro-brasileira e a espiritualidade. Os integrantes, exclusivamente homens, desfilam trajando vestes brancas, turbantes e colares azuis e brancos, simbolizando os orixás Oxalá e Ogum. O perfume de alfazema é uma marca registrada do grupo, que entoa cânticos em iorubá ao som do ritmo ijexá.

Controvérsias e Discussões Internas
A decisão de restringir a participação a homens cisgêneros gerou debates sobre inclusão e diversidade dentro da comunidade do afoxé. Historicamente, o Filhos de Gandhy manteve uma composição exclusivamente masculina, refletindo as tradições culturais e religiosas de sua fundação. No entanto, em 1979, foi criada a Sociedade Recreativa e Cultural Afoxé Filhas de Gandhy, com o objetivo de promover a ascensão política e social das mulheres por meio da cultura e valorização da ancestralidade. Este grupo feminino desenvolve atividades culturais, educacionais, sociais e políticas, buscando combater desigualdades e empoderar mulheres na sociedade.
Nas redes sociais, a restrição gerou críticas. Apesar de ainda não ter feito um post oficial sobre o tema, a página do Afoxé Filhos de Gandhy no Instagram recebeu diversos comentários em uma publicação recente que anunciava o tema do Carnaval de 2025: “Ogum – O Senhor do Ferro, dos Metais e da Tecnologia! “.

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Um dos internautas comentou:
“É inadmissível que, em pleno 2025, um bloco com tanta história e representatividade como os Filhos de Gandhy pratique transfobia ao excluir homens trans. A justificativa de ‘tradição’ não pode ser usada para violar direitos e desrespeitar identidades. Ogum, o Orixá homenageado esse ano, é um guerreiro da justiça – e a justiça não compactua com discriminação. A cultura afro-brasileira sempre foi resistência, e resistência inclui TODAS as identidades. Excluir homens trans é desonrar os princípios de igualdade e respeito. E TRANSFOBIA É CRIME!”
Outro seguidor escreveu:
“Não esconda sua transfobia no mito da tradição!”
A exclusão de homens trans do desfile levanta debates sobre inclusão e respeito às identidades de gênero dentro das tradições culturais afro-brasileiras. Até o momento, a organização do afoxé não se manifestou oficialmente sobre a repercussão negativa da decisão.