Festival Gastronomia Preta vai homenagear a chef Benê Ricardo e o ator Mussum em edição no Rio

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A primeira edição do Festival Gastronomia Preta, criado por Breno Cruz – mais conhecido como Preto Gourmet – acontecerá nos dias 25 e 26 de novembro. O evento gratuito vai acontecer no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e na Praça da Pira Olímpica, ao lado do prédio, no Centro do Rio de janeiro. Durante o festival o público terá acesso a uma praça de alimentação, shows e o Prêmio Gastronomia Preta.

Além disso, haverá também a ‘Cozinha Show Benê Ricard’, homenageada no evento. “Benê Ricardo foi a primeira mulher a se formar profissionalmente no Brasil no começo da década de 1980. Foi uma grande chef – inclusive com passagem pela Alemanha. As pessoas precisam conhecer a história de Benê Ricardo“, explica Breno.

Também haverá o ‘Ciclo de Debates Mussum’, com mesas discutindo raça, diversidade e gastronomia. Breno também explica a importância dessa figura, e de homenageá-lo no evento. “Mussum foi vanguardista de diferentes formas. Quando conheci a história contada pelo filho, falei: É isso. Mussum tem que ser homenageado no Festival. Ele foi gigante no que fez e um guerreiro com os tantos ataques racistas que sofreu“.

Chef Benê Ricardo (esquerda) e Mussum (direita), são homenageados no evento /Foto: Reprodução – Pense Comida / Reprodução – TV Globo

A cozinha, que leva o nome da chef, será montada no quarto andar do CCBB RJ, para receber chefs que vão preparar alguns pratos para o público. O espaço também vai receber 8 aulas, em que os ouvintes terão acesso direto aos cozinheiros e chefs de cozinha, para experimentarem o que for preparado. Breno explica por qual motivo a chef homenageada não foi amplamente reconhecida, e por qual motivo será homenageada.

Nitidamente pela questão do racismo estrutural. Como a primeira mulher formada profissionalmente no Brasil em Gastronomia poderia ser preta? Como ela poderia cozinhar tão bem? A realização de pessoas como ela precisa ser contada como um caso de sucesso, que é. Não só pelo lado da superação“, conta ele que conheceu Benê por meio de uma entrevista da chef Aline Guedes, e que depois contou a história dela em seu livro ‘Gastronomia Preta’, com a Benê na capa.

Segundo Preto Gourmet, o fato de ter sido invisibilizada contribuiu com a gastronomia brasileira. “Resgatar agora sua trajetória profissional é uma ruptura para que tantas outras e outros profissionais da Gastronomia não passem pelo mesmo apagamento. Adicionalmente, a mineira de Ouro Fino resistiu ao contexto racista e sexista na área. Ela ganhou vários concursos e foi uma defensora da biodiversidade e dos insumos tipicamente brasileiros“, explicou Breno, que falou mais sobre os feitos de Benê:

Nas décadas de 1980 e 1990 Benê já discutia biodiversidade e insumos tipicamente brasileiros – o que hoje é bem valorizado na alta gastronomia“.

Breno Cruz, idealizador do evento, prepara um evento recheado de comidas, bebidas, cultura e experiências especiais para a comunidade negra /Foto: Lipe Borges

Além da chef mineira, o ator e humorista Mussum também será homenageado. De acordo com Breno, a decisão foi tomada antes do filme sobre ele, receber os 6 Kikitos de Ouro no Festival de Gramado, e que ao conhecer Sandro Gomes, CEO da Cacildis e filho do Mussum, decidiu colocá-lo no festival.

Breno explica por qual motivo decidiu prestar a homenagem ao humorista, batizando o ciclo de debates com o nome dele. “Nomeá-lo como Mussum faz parte de um processo de reflexão sobre sua importância em uma época em que as falas e ações racistas aconteciam sem filtro. Debater significa dialogar; por isso, falar sobre racismo e preconceito nos dias de hoje faz a gente reconhecer o sucesso de Mussum. Afinal, nosso objetivo no Festival Gastronomia Preta é empoderar nosso povo por meio do sucesso“.

Para o idealizador do evento, fazer referência a figuras importantes da história afro-brasileira no Festival, é de suma importância. “O Festival em si já é um convite à reflexão sobre a necessidade de criar rupturas com uma área que é completamente eurocentrada. O bar de drinks do Festival tem outra homenagem e receberá o nome de Tia Ciata – foi no quintal da casa dela que o samba surgiu“, conta ele.

Segundo ele, a ideia é resgatar a ancestralidade do povo negro, por meio dessas figuras. “Tia Ciata já é mais conhecida e é importante marcar sua ligação com o Samba em um festival que evidencia a cultura preta. Quem sabe daqui uns anos quando virem o nome Benê Ricardo as pessoas não a associem diretamente à Gastronomia? Mussum talvez seja mais conhecido por esteve na TV, mas vamos levar a importância do seu trabalho também para quem ainda não o conheceu“, pontua Breno.

O patrocínio Master do Festival Gastronomia Preta é da Cacildis, Nestlè e Secretaria do Meio Ambiente e Clima do Rio. A programação do evento será anunciada em breve, mas os parceiros e convidados já estão sendo anunciados na página oficial do festival, no Instagram. Figuras como o Chef Paulo Rocha e a Chef Kátia Barbosa, já estão confirmados.

Leia também: Festival Gastronomia Preta: “Será um momento de aquilombamento dos nossos”, diz Preto Gourmet

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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