Extrema direita domina redes, mas concentra os deputados que menos trabalham, diz pesquisa

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Levantamento mostra que parlamentares alinhados a pautas conservadoras e antidemocráticas lideram as maiores interações no Instagram, mas não têm o mesmo desempenho na Câmara

Pesquisa feita pelo Panorama Mobile Time/Opinion Box mostra que parlamentares com discursos alinhados à extrema direita concentram as maiores interações na plataforma Instagram. Mas a força digital não se traduz em trabalho legislativo: entre os 20 deputados federais com maior engajamento em 2025, metade não teve nenhum projeto de lei aprovado como autor principal desde 2023, e outros três aprovaram apenas textos simbólicos.

Para medir a produtividade, a Agência Pública analisou os dados da plataforma Zeeng, cruzando o engajamento digital com a lista de projetos de lei aprovados pelo plenário. O critério seguiu o regimento interno: conta como autor quem aparece como primeiro signatário do texto ou quem é nomeado como autor principal no documento.

Pesquisa mostra que parlamentares com discursos alinhados à extrema direita concentram as maiores interações na plataforma Instagram
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Considerando a média de curtidas e comentários em postagens entre janeiro e dezembro de 2025, dos parlamentares no topo do ranking, 11 pertencem à extrema direita, distribuídos entre PL, Novo e PSD. Do outro lado, apenas três são do campo progressista, eleitos por Psol e Avante. O restante se distribui por siglas de direita e centro, como PP, União Brasil e MDB.

Parlamentares que não tiveram nenhum projeto aprovado nos últimos três anos

Quatro deputados da extrema direita ou aliados diretos não tiveram nenhum projeto aprovado nos últimos três anos — nem mesmo como coautores. São eles: Carla Zambelli (PL-SP), Maurício Marcon (PL-RS), Guilherme Derrite (PP-SP) e Fábio Teruel (MDB-SP).

Vale lembrar que a situação de alguns desses deputados é ainda mais grave, como o caso da deputada Carla Zambelli, que se encontra presa em Roma desde julho, condenada a 10 anos de prisão por invadir e inserir documentos falsos no sistema do CNJ. Os perfis da parlamentar chegaram a ser bloqueados pelo STF em junho por disseminação de discursos de ódio.

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Guilherme Derrite só voltou à Câmara para relatar o projeto Antifação. Antes disso, o parlamentar passou quase todo o mandato licenciado, enquanto comandava a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.

Outros seis deputados aparecem apenas como coautores de projetos, uma participação considerada secundária e comum na política. São eles: André Fernandes (PL-CE), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Sargento Fahur (PSD-PR), Gustavo Gayer (PL-GO), Mário Frias (PL) e Delegado Palumbo (MDB-SP).

Entre os mais populares, apenas três deputados aprovaram um projeto como autores principais e todos são iniciativas simbólicas, sem efeito prático, sem alocação de recursos e com tramitação mais simples. São eles: Delegado Bruno Lima (PP-SP), Guilherme Boulos (Psol-SP) e Bia Kicis (PL-DF).

Os projetos aprovados por esses autores tratam de campanhas, semanas ou meses temáticos, que não produzem mudanças efetivas em políticas públicas.

Layla Silva

Layla Silva

Layla Silva é jornalista e mineira que vive no Rio de Janeiro. Experiência como podcaster, produtora de conteúdo e redação. Acredita no papel fundamental da mídia na desconstrução de estereótipos estruturais.

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