Um estudo realizado por uma pesquisadora da Unicamp mostra que grupos neonazistas se concentram em maior número no Sul do país, em que o crescimento destas células foi de 60% desde 2019. Entre essas cidades, Curitiba é a terceira com mais grupos neonazistas – 19 no total. O crescimento das células no Brasil foi de 58%, de 2019 até agora, e de 636% desde 2015.
A pesquisadora Adriana Dias, doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), realizou uma análise em que expõe a ascensão de grupos neonazistas nos últimos anos. De acordo com notícias recentes, crimes ligados à ideologia extremista foram registradas no Paraná durante lives e encontros digitais, invadidos por ameaças de pessoas com discursos de ódio. Foram feitas duas denúncias oficiais em 2021, registradas pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) como crimes de preconceito de raça e cor, com apologia ao nazismo.
Adriana Dias explica, em matéria exclusiva para o jornal Bem Paraná, que apesar de se mensurar 7 mil integrantes de grupos neonazistas no Brasil, é difícil traçar um perfil único, pois cada grupo possui uma particularidade. Há, por exemplo, os ultranacionalistas brancos, os neopagãos, os racistas, os misóginos, os radicais católicos, os hitleristas e os que negam o holocausto, sendo este o maior grupo.
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O estudo mostra que o movimento neonazista no Brasil é heterogêneo e se reuni por várias redes diferentes, monitoradas e avaliadas pela cientista social, que descobriu novos sites e serviços on-line utilizados pelas neonazistas. “A internet facilitou tudo, ela serve para as melhores coisas, mas também para as mais horríveis”, afirma Adriana, lembrando que até o fim do século XX o Brasil tinha 10 grupos neonazistas, porém hoje, existem cerca de 530 grupos, segundo ela.
O filósofo e doutor em Educação, Sergio Luís do Nascimento, membro do Núcleo de Direitos Humanos da PUC/PR, conta que são homens, jovens, brancos, de classe média e universitários. “Usam a internet pois acreditam no anonimato. Vivem isolados e querem encontrar um espaço para manifestar suas ideias e, muitas vezes, são induzidos a esse comportamento”, disse ele ao Bem Paraná.
Presença de mulheres em grupos fascistas
Ainda segundo a pesquisadora Adriana Dias, alguns grupos neonazistas não permitem mulheres, entretanto há outros que incentivam a participação delas, tendo-as inclusive como líderes. Hoje existem grupos específicos de mulheres fascistas, como as Mulheres Arianas Unidas, que “valorizam cuidar da casa e atacam as judias, quem elas acreditam não preencher o papel da mulher. Há até livros de colorir para ensinar as crianças a serem neonazistas”.
Mulheres foram identificadas em duas células neonazistas no Paraná: fascistas e radicais católicos antissemitas. Os grupos fascistas foram monitorados pela equipe da Unicamp em cinco cidades paranaenses: Curitiba, Guaraqueçaba, Joaquim Távora, Prudentópolis e Sengés. Já os radicais católicos, alguns liderados por mulheres, estão em oito cidades no Paraná: São José dos Pinhais, Campo Largo, Cascavel, Castro, Nova Olímpia, Rio Negro, Prudentópolis e Ponta Grossa.
“Como é um movimento religioso, tende a se expandir com mais facilidade”, diz Adriana.
A antropóloga complementa dizendo que estes grupos são muito voláteis. “Isso muda com frequência pois alguns grupos diminuem, outros líderes mudam de cidade e as células se desintegram ou se juntam, formando uma maior. Foi o que houve no Paraná com duas das principais células, o que pode explicar a redução no número, de 72 para 68”, contou ela ao jornal paranaense.
Ela explica que “o que lhes dá esta definição são seus discursos e atividades, baseados na antipatia por pessoas de outras religiões, origens, gêneros ou raças”. Esses comportamentos são percebidos em falas com o intuito de desumanizar o outro e reforçar o ódio do seu grupo contra os demais. Segundo ela, o Paraná difere dos outros Estados na maneira como os grupos se desenvolvem, em especial os que negam o holocausto. “Eles começam em cidades menores e vão avançando para as maiores”.
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