A diferença salarial entre homens brancos e mulheres negras chega a 159% em algumas profissões
Uma pesquisa, realizada pelo Instituto Insper, com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), mostra que a formação acadêmica não é garantia de justiça profissional para mulheres negras no Brasil. Segundo o levantamento, dependendo da profissão, um homem branco chega a ganhar mais que o dobro de uma profissional negra, para executar o mesmo trabalho.
O Insper fez um detalhamento de cinco profissões: engenheiros e arquitetos, médicos, professores, administradores e cientistas sociais e apurou que o salário da mulher negra, em todas as profissões, é o mais baixo, mesmo quando comparado com homens negros ou mulheres brancas.
De acordo com a pesquisa, um dos casos mais discrepante foi visto na medicina, em que as mulheres negras têm um salário médio de R$ 6.370,30 e os homens brancos contam com a remuneração média de R$ 15.055,84.
Para um dos coordenadores da pesquisa, Naércio Menezes Filho, a pesquisa ratifica que mesmo entre os que estão na mesma profissão sempre há um diferencial em função de cor ou sexo. “Os homens brancos estão sempre ganhando mais. Isso aponta para a existência de discriminação no mercado de trabalho”, afirmou.
Formação pública e privada
A formação também foi avaliada no levantamento e revelou que o salário médio de uma mulher negra, formada em uma instituição pública é de R$ 3.047,51, já as que estudaram em universidades privadas, a remuneração média é de R$ 2.902,55.
Já em comparação com os salários médios dos homens brancos, as mulheres negras estão muito aquém. Os que são formados em universidades públicas têm um salário médio de R$ 7.891,78 e os que cursaram ensino superior em instituição privada contam com a remuneração de 6.626,84, totalizando uma diferença de 159% em relação às mulheres negras.
Segundo Cida Bento, diretora executiva do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), a mulher negra está sempre na base, seja na educação, trabalho ou saúde. “E isso tem a ver com essa combinação, essa intersecção, de gênero e raça, que complica mais a situação. A discriminação que já incide sobre as mulheres de forma geral, incide mais fortemente sobre a mulher negra”, disse.
Oportunidades na base
A opinião dos especialistas é unânime e revela que para mudar o cenário atual é necessário investimento na educação desde a infância, igualando as oportunidades. “É preciso igualar as oportunidades na vida de negros e brancos. Desde o nascimento, mulheres e homens negros têm que ter as mesmas oportunidades para realizar os seus sonhos do que mulheres e homens brancos”, afirmou Naercio Menezes.
Cida Bento ressalta que, mesmo igualando as oportunidades, o cenário só mudará no longo prazo e, em curto e médio prazo, as empresas precisam criar políticas afirmativas de igualdade entre brancos e negros e, acima de tudo, entre homens e mulheres. “É preciso trazer uma reflexão para toda a empresa. Dentro das instituições, todos sabem que a discriminação é crime, mas o que faz uma pessoa entender que a mulher negra pode sempre ficar no mais baixo patamar de determinado cargo e o homem no mais alto?”, questionou Cida.
A pesquisa foi coordenada pelos pesquisadores do Insper Beatriz Ribeiro, Bruno Komatsu e Naercio Menezes Filho, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os anos de 2016 e 2018.
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