O Coletivo dos Anjos cria uma série de reflexões sobre as lutas das pessoas pretas e as contradições sociais e raciais brasileiras em “A Fuzarca dos Descalços”. Com direção de Aysha Nascimento e a dramaturgia assinada por Victor Nóvoa, o espetáculo foi idealizado por Eder dos Anjos, que está em cena ao lado de Salloma Salomão e dos músicos Ito Alves e Juh Vieira, que tocam ao vivo a trilha sonora em diálogo constante com a dramaturgia.
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Em maio, o espetáculo será apresentado na grande São Paulo e Zona Sul, começando pelo Centro Cultural Grande Otelo, em Osasco, neste sábado (04) e domingo (05), depois no Galpão da Cultura, no Centro Social Urbano de Francisco Morato no dia 19/05, Centro de Eventos de Barueri, (dia 24) e Centro Cultural Santo Amaro (dias 26 e 28).
Essa circulação é realizada através do Proac Edital de Circulação de Espetáculos 02/2023.
Na trama, Atsu e Baakir estão do outro lado da cerca. Eles não sabem se estão presos ou do lado de fora, apartados de um mundo ao qual não têm nenhum acesso. Ambos são corpos marginalizados que compartilham sonhos, cicatrizes e dores. Mesmo nas situações mais violentas e oníricas, eles permanecem juntos, tentando compreender e romper com tudo aquilo que os segrega da sociedade.
A peça é apenas livremente inspirada na obra de Beckett, já que tem como proposta romper com o pensamento niilista do pós-guerra ocidental, fortemente presente no texto original. Para isso, a nova dramaturgia problematiza essa questão da espera, partindo da premissa de que a população negra não tem esse privilégio de aguardar por algo inalcançável.
À medida que coloca em cena dois personagens masculinos de idades bem diferentes, Fuzarca dos Descalços também trata da questão da afetividade negra e da importância da polifonia na construção de um novo processo de humanização desses corpos. “A encenação vai trazer o lugar do amor, em que dois homens possam ter um diálogo e uma reflexão sobre o afeto, possam ser afetuosos um com o outro para além da sua sexualidade. E, para falar sobre essa questão da masculinidade negra, uma referência muito importante para mim foi o livro Representação e Raça, da Bell Hooks”, conta Aysha.
Outros temas discutidos pelo espetáculo são as possibilidades de reconstrução dos povos negros, as relações sociais que se estabelecem com a negritude e como as pessoas precisam construir juntas uma nova nação. E, para acentuar esse efeito de empatia e espelhamento no público, os espectadores precisam tirar os sapatos ao entrar na apresentação e ficar descalços, tal como os personagens. E os calçados da plateia também são ressignificados de diversas formas ao longo da montagem.
Sobre o Coletivo dos Anjos
Criado em 2014 na cidade de Jandira, o Coletivo dos Anjos trabalha a partir de duas frentes de pesquisa. A primeira delas busca dar voz a personagens e histórias que, de alguma, forma representam figuras que estão à margem de algo, assim como a própria cidade de Jandira está à margem da capital. A segunda vertente tem como proposta levar à população textos baseados em obras de grandes autores da literatura e dramaturgia clássica universal, trazendo também novas referências vindas de diretores conhecidos do cenário teatral nacional.
A primeira montagem do grupo foi A Gaivota (2014), de Anton Tchekhov. Com direção de Diego Mosckhovich, a encenação usou a voz do personagem Treplev para discutir, através de sua insatisfação com as formas estabelecidas e sua indignação com a espetacularização, o lugar da arte e o ofício do artista. Em seu segundo projeto, intitulado Ser tão seco – rapsódia Graciliana em um ato e uma andança (2015), com direção de Luiz Carlos Laranjeiras, o coletivo se aprofundou na obra Vidas Secas, do grande escritor Graciliano Ramos. A encenação, em formato para a rua, trouxe à tona a história de luta de uma família migrando de um lugar para o outro, buscando sobreviver em meio a um mundo injusto, revelando também histórias de pessoas que vieram de outras cidades para morar em Jandira.
Em 2017, o coletivo realizou seu terceiro espetáculo, Sobre Meninos e Pipas, com direção de Karen Menatti, da Cia do Tijolo. Em cena, quatro atores e dois músicos contam algumas histórias sobre meninos e meninas que questionam os regulamentos, assim como histórias em que a manutenção das regras vigentes é repetida. Através de um suposto mundo imaginado, os atores criaram, a partir do texto Aquele que diz sim, de Bertold Brecht, um espetáculo que convida o público a refletir se é realmente possível subverter alguma regra pré-estabelecida.
Ficha Técnica:
Idealização e concepção geral: Eder dos Anjos. Direção Artística: Aysha Nascimento. Dramaturgia: Victor Nóvoa. Elenco: Eder dos Anjos e Salloma Salomão. Músicos em cena: Juh Vieira e Ito Alves. Musicista Stand in: Carla Ribeiro. Iluminação: Danielle Meireles. Cenografia e figurinos: Thays do Valle. Designer gráficos: Cesar Kcha e Lucas Souza. Desenho de Som: João Hsia. Operação de Luz: Paloma Dantas. Assessoria Contábil: Tuty e Lyla. Assessoria Jurídica: Thiago Oliveira. Contrarregra: Renan Vinícius. Fotos: Amanda Barreto. Logística: Thiago Soares. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Mídias Sociais: Moises Santos. Coordenação de produção: Cícero Andrade. Realização: Coletivo dos Anjos.
Serviço:
A Fuzarca dos Descalços
Recomendação etária: 12 anos
Duração: 60 minutos
Ingressos: gratuitos.
Espaço cultural Grande Otelo – Osasco
Rua Dimitri Sensaud de Lavaud, 100 – Vila Campesina – Telefone: (11) 3699-5618
Dias 4 e 5 de maio – Sábado, às 20h e domingo, às 19h.
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